Brochura TBA no Lux
Experimentar o intervalo
Quando os teatros fecharam em março, os espetáculos anulados no mundo inteiro transformaram-se num imenso festival imaginário. Agora, quando em vários países se ensaia o regresso às salas depois do intervalo, as precauções sanitárias mudam as regras do jogo, desfamiliarizam o hábito e convertem qualquer espetáculo num estranho ritual, ou numa peça em que o próprio público é intérprete (desinfetado, mascarado, coreografado). E tal como numa peça experimental, as regras e os entraves, levados a sério, mudam o que se vê.
No Teatro do Bairro Alto debatemo-nos com ainda outro obstáculo: as obras nos bastidores que inevitavelmente se atrasaram, obrigando-nos a programar fora de portas para cumprir os compromissos que tínhamos em novembro e dezembro. Encontrámos para isso um improvável parceiro de dança: ao fundo do túnel, o Lux. É que a altura é de unir esforços, as mãos (metaforicamente) dadas: com o Lux Frágil, com o Alkantara Festival, com o festival Temps d’Images, com as artistas que adaptaram os seus planos e criações, convosco.
Nestes meses digitais (entre streamings, zooms e podcasts), o distante tornou-se próximo; agora que voltaremos a estar perto, vamos poder assistir em conjunto ao aparecimento único de algo distante, ali mesmo a dois metros. Talvez assim, com a ajuda dos espetáculos, concertos e conversas que propomos, seja possível experimentar o intervalo entre a cara e a máscara, a identidade e a linguagem, o sexo e o género, a cidade e a amizade. Resistindo, deixamo-nos levar.