Usos da arte, usos da cidade: gentrificação e cultura
24 Outubro
Quinta-feira 18h30
Coorganização: Matéria para escavação futura e Traça-mostra de filmes de arquivo familiares*
* projeto do Arquivo Municipal de Lisboa – Videoteca
BALDIO (do árabe bâTil, “inútil”): terreno abandonado ou sem dono.
Excertos da Lei n.º 75/2017 de 17 de agosto: regime aplicável aos baldios e aos demais meios de produção comunitários possuídos e geridos por comunidades locais integrados no setor cooperativo e social dos meios de produção.
Para efeitos da presente lei entende-se por «baldios», os terrenos com as suas partes e equipamentos integrantes, possuídos e geridos por comunidades locais.
Finalidades, uso e fruição dos baldios: os baldios constituem, em regra, logradouro comum dos compartes, designadamente para efeitos de apascentação de gados, de recolha de lenhas e de matos, de culturas e de caça, de produção elétrica e de todas as suas outras atuais e futuras potencialidades económicas, nos termos da lei e dos usos e costumes locais; mediante deliberação da assembleia de compartes, os baldios podem ainda constituir logradouro comum dos compartes para fins culturais e sociais de interesse para os habitantes do núcleo ou núcleos populacionais da sua área de residência; o uso, a posse, a fruição e a administração dos baldios faz-se de acordo com a presente lei, os usos e costumes locais e as deliberações dos órgãos competentes das comunidades locais, democraticamente eleitos.
Matéria para Escavação Futura é um projeto que explora a caminhada como forma de pesquisa e prática artística. Propõe a criação de momentos e lugares para a escuta da cidade de Lisboa e para a reflexão crítica em torno das mudanças que a reconfiguram espacial, cultural e socialmente. No seu âmbito foram apresentadas no TBA Partituras para Ir e A cada passo uma constelação.
No princípio do envolvimento da TRAÇA na organização desta conversa esteve uma outra sobre território e performance, organizada na 2.ª edição da TRAÇA em 2017, na Madragoa. Essa conversa foi organizada para dar conta da confluência de estruturas que então trabalhavam as artes performativas e estavam instaladas naquele território, com dois objetivos: por um lado, analisar essa concentração territorial de estruturas dedicadas à mesma área de trabalho, e por outro, perceber como é que o território influenciava o trabalho que desenvolviam. Essa conversa foi organizada na sede do Vendedores de Jornais Futebol Clube que entretanto deixou o espaço que ocupava há quase 100 anos por não conseguir suportar o aumento da renda.
A partir de um desafio lançado pelo TBA a ambas, começámos então a desenhar em conjunto uma sessão de trabalho sobre as relações entre as práticas artísticas e os programas urbanísticos e, particularmente, as transformações em curso na cidade de Lisboa. Foi no processo de organização desta sessão que conhecemos o projeto de José Capela para a sala Manuela Porto, onde a sessão tem lugar. Nesse momento percebemos que a própria sala, e o movimento que prepara a abertura do TBA (num edifício ocupado entre 1975 e 2016 por outro teatro), seriam o objeto aglutinador para os problemas que consideramos necessários abordar.
Assim, propomos uma conversa sobre desocupação, deslocação e ocupação com a participação de estruturas ou projetos que se tenham deslocado recentemente. É uma discussão sobre a possibilidade de espaços de habitação não programada na cidade, hoje.
Matéria para Escavação Futura, com curadoria de Joana Braga e Ana Jara, é um projeto de pesquisa e criação artística que explora a caminhada e a experiência corporizada para alargar as qualidades sensíveis e imaginativas da paisagem urbana, questionar criticamente as relações que estabelecemos com a cidade e gerar uma reflexão crítica sobre as tensões, fissuras e conflitos que a marcam. Depois dos percursos performativos ‘Partituras para ir’ e ‘A cada passo, uma constelação’, de Joana Braga, Matéria para Escavação Futura vai apresentar uma exposição com obras de Andresa Soares, Carlos Gomes, Fernando Ramalho, Luísa Ferreira, Patrícia Portela, Tânia Moreira David e Valter Vinagre. Para a organização desta sessão juntaram-se às curadoras Flora Paim, assistente de curadoria, e Sara Goulart, responsável pela produção executiva do projeto.
A TRAÇA – mostra de filmes de arquivos familiares é organizada bienalmente pelo Arquivo Municipal de Lisboa – Videoteca, com programação de Fátima Tomé e Inês Sapeta Dias. Para a edição de Maio de 2020 a curadora Maria do Mar Fazenda foi convidada a conceber uma exposição que põe lado a lado questões urbanas, filmes de arquivo familiares e uma seleção de obras de arte. As três participam na organização.
Agora que a cidade vive uma profunda transformação (impulsionada pela conjuntura global e promovida pelos governos municipal e nacional), queremos nesta sessão de trabalho aberta pensar as relações entre a ação das práticas artísticas sobre áreas particulares de Lisboa e as transformações urbanas a que essas áreas são sujeitas, partindo de casos concretos. Para além das intervenções públicas e privadas de requalificação e construção, há alterações profundas do tecido social, uma crescente privatização dos espaços comuns e um processo de “tematização” que parece decidir o destino de territórios inteiros. Ainda que críticas, algumas experiências artísticas tornam-se muitas vezes apelativas como consumo cultural, tornando rentável o investimento comercial e financeiro nas zonas onde ocorrem. Contudo, não se pode assumir de modo simplificado que instituições, projetos e práticas artísticas se constituam como a vanguarda do processo conhecido por gentrificação.
Com a presença confirmada de:
António Brito Guterres
Diogo Alvim
Gabriela Salhe (Frame Colectivo)
João Mourão e Luís Silva (Kunsthalle Lissabon)
José Capela
José Diogo Gonçalves
Mónica Calle (Casa Conveniente / Zona Não Vigiada)
Paulo Tavares e Rui Guilherme Pinto (Guilherme Cossoul)
Ramiro Guerreiro
Sofia Costa Pinto (Gatomorto/EDA)
Sofia Neuparth e Margarida Agostinho (c.e.m)
Teresa Palma Rodrigues
Tobi Maier