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01 - 02 Abril
Alex Baczynski-Jenkins

Untitled (Holding Horizon)

12 eur
Artes Performativas

01 - 02 Abril

sábado e domingo das 17h30 às 20h30

ACESSIBILIDADE
Performance duracional em que o público se senta no chão e em estrados almofadados, podendo entrar e sair quando quiser.

Artes Performativas
Preço 12 eur (integrado no Passe Cultura)
Sala Principal
Duração 3h

Classificação Etária:

A classificar pela CCE

Coreografia
Alex Baczyński-Jenkins
Em colaboração e com interpretação
Aaa Biczysko, Ewa Dziarnowska, Rafał Pierzyński, Ronald Berger e Sigrid Stigsdatter
Desenvolvido com
Aaa Biczysko, Ewa Dziarnowska, Rafał Pierzyński, Sigrid Stigsdatter e Tiran Normanson
Criado no âmbito da residência
Kem no Centro de Arte Contemporânea de Varsóvia – Castelo Ujazdowski
Direção de Produção 2018
Ola Knychalska
Luz e som ao vivo
Krzysztof Bagiński
Pesquisa sonora
Jana Androsova, Krzysztof Bagiński, Tobias Koch e Filip Lech
Consultoria de figurinos
Rafał Domagła
Uma encomenda
Frieze Artist Award 2018, em parceria com Delfina Foundation, no âmbito do programa Projetos Frieze, comissariado por Diana Campbell Betancourt
Uma produção
Alex Baczyński–Jenkins Studio
Direção (pesquisa e produção) ABJ Studio
Andrea Rodrigo
Gestão ABJ Studio
Sarie Nijboer
Distribuição
Something Great

ALEX BACZYNSKI-JENKINS (Polónia/Reino Unido/Alemanha) é artista, coreógrafo e cofundador de Kem, um coletivo feminista queer de Varsóvia dedicado à coreografia, performance e som na sua interseção com a prática social. No seu trabalho, aborda a coreografia como uma via de reflexão sobre sentimentos, perceção e emergência coletiva.

Apresentações anteriores e individuais incluem: Kunsthalle Basel (Suíça, 2019), Fundação Galeria Foksal (Varsóvia, 2018) e Galeria Chisenhale (Londres, 2017). Baczyński-Jenkins também apresentou obras na 58ª Exposição Internacional de Arte – Bienal de Veneza (Veneza, 2019), Museu Stedelijk (Amesterdão, 2019), Museu de Arte Contemporânea Migros (Zurique, 2018), Palais de Tokyo (Paris, 2017), Museu de Arte Moderna (Varsóvia, 2017), Instituto Suíço (Nova Iorque, 2016), Museu Sztuki (Łódź, 2016) e Basel Liste (2014). O coletivo Kem levou recentemente a cabo projetos no Museu de Arte Moderna de Varsóvia (Kem Care, 2017) e no Castelo de Ujazdowski – Centro de Arte Contemporânea (Three Springs, 2018–19). Baczyński-Jenkins foi bolseiro no programa Home Workspace, em Beirute, entre 2012 e 2013. Em 2018, recebeu o prémio da Fundação Arts e o prémio Artista Frieze (ambos no Reino Unido).

 

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Uma política queer de envolvimento: Alex Baczyński-Jenkins em conversa com Eliel Jones
Mousse Magazine, junho 2019

 

“Amor e tempo. É simples.”, escreveu o artista Ian White no seu ensaio de 2011 What Is Material?. A obra do artista e coreógrafo Alex Baczyński-Jenkins partilha esta abordagem. Trabalhando intimamente com colaboradores, faz a mediação da relacionalidade e da política do desejo, dando origem a experiências de tempo e espaço queer. Numa tarde soalheira em Veneza, ao prepararmo-nos para a apresentação do seu trabalho incluído no programa da 58ª Bienal de Veneza, sentámo-nos os dois, para falar sobre política queer de envolvimento, amizade e construção de comunidade.

 

ELIEL JONES
Já nos conhecemos há cerca de três anos. Aconteceu por termos trabalhado juntos e continuámos a fazê-lo desde então. Talvez regressemos um ao outro por termos interesses em comum e partilharmos investigação sobre sensibilidade queer mas também, sem dúvida, por existir uma amizade. Já me perguntaram se temos uma relação e, grande parte do tempo, parece mesmo que sim. O nosso envolvimento deve-se tanto à amizade como a trabalharmos juntos. Julgo que não sou um caso único e que isso acontece com os teus colaboradores mais chegados de uma forma geral. É uma espécie de família complexa, sem querer soar demasiado incestuoso.

 

ALEX BACZYŃSKI-JENKINS
Já o afirmei anteriormente: aqueles com quem se quer trabalhar são aqueles com quem se quer partilhar a vida. É frequente o meu trabalho tornar-se numa oportunidade e numa forma de as relações se desenvolverem. As políticas da amizade, do desejo, do amor e da comunidade estão tão integradas nas próprias coreografias quanto nos processos que lhes dão vida. Por vezes, é um desafio e implica muito cuidado – cuidado mútuo – tanto fora como dentro do trabalho. O processo de desenvolvimento de uma obra e as próprias obras são extremamente relacionais e penso que a identidade queer tem uma forte vertente de interdependência, pertença comunitária, e uma noção coletiva da própria subjetividade.

 

ELIEL
É também por isso que tantas das tuas obras apelam a uma grande proximidade e relação? Pedes aos teus performers para se envolverem em vários modos de relacionalidade queer. Tal materializa-se frequentemente em modalidades físicas e emocionais de toque, facilitando a partilha da intimidade. Há igualmente uma interrogação permanente na tua atuação relacionada com coreografar o desejo, que tem uma mediação não apenas formal mas também afetiva por via das relações que desenvolves com os teus colaboradores e que ocorrem entre eles. Foi o caso de Bloom (2018), com Varsóvia como pano de fundo, onde os performers passaram por uma situação que lembrava um local público de encontro para ter relações sexuais. Talvez seja uma boa peça para pensar sobre associação, representação e presença no teu trabalho. Aqui, os performers prolongaram as relações que já existiam entre si e representaram-nas diante do público.

 

ALEX
O toque, na sua forma física e na sua forma afetiva (a sensação de tocar alguém e essa pessoa recolher-se ou a experiência de tocar uma sensação com alguém), atravessa o meu trabalho. Manifesta-se numa prática de amplificação de gestos, situações e espaços de um quotidiano queer. O tipo de olhar que procuro coreografar com este dia-a-dia queer é um olhar de desejo, até afetuoso, que está atento ao pormenor. É semelhante a um olhar voyeurista ou ávido, na medida em que está atento a pequenos gestos e momentos de desejo, fantasiando e encenando ficções queer pelo caminho. Outra forma de falar sobre isto é como sendo do outro mundo – soltando o potencial latente de material básico presente na sociabilidade queer. A forma como depois trabalho com estes materiais – uma amálgama de gestos, danças e situações – passa por criar uma espécie de montagem coreográfica que forja o real de forma queer, dando origem a uma intensa experiência queer.

 

ELIEL
Esta produção de experiências – e espaços – queer também se relaciona com o teu trabalho com o coletivo Kem, em Varsóvia, de que foste cofundador e pelo qual és atualmente responsável com Krzysztof Bagiński, Ola Knychalska e Ania Miczko. Nos últimos anos, vens pensando sobre a amizade como um ato político. Não ser branco, homem e heterossexual na conjuntura atual na Polónia é uma luta e estabelecer relações entre pares parece essencial para sobreviver mas também para erguer uma resistência por via de um corpo sociopolítico que possa trabalhar em conjunto para mudar o futuro da Polónia. No verão passado, organizaste o bar Dragana no âmbito da tua residência no Castelo de Ujazdowski – Centro de Arte Contemporânea. O bar, com o seu programa, não só proporcionou abrigo e alimento em Varsóvia como sinto que foi um local onde muitas pessoas se encontraram, talvez pela primeira vez.

 

ALEX
A retórica política na Polónia mudou muito significativamente nos últimos três anos. O Kem teve início quando chegou ao poder um governo de direita e desde então que o discurso de ódio se tornou inacreditavelmente presente na esfera pública. A máquina política do ódio que ameaça os “outros” voltou-se originalmente para os corpos muçulmanos, de pele castanha, refugiados e imigrantes e, mais recentemente, foi redirecionada para a comunidade LGBTQ+. O Kem está empenhado numa abordagem coreográfica alargada que ensaia modelos de resistência afetiva como uma forma de fortalecer práticas e discursos artísticos queer e feministas na Polónia. Referiste uma das maneiras como o fizemos recentemente, que foi dar um conjunto de festas intituladas Bar Dragana no verão passado. Também foi uma forma de continuar a construir uma comunidade e dar resposta à falta de clubes queer e feministas em Varsóvia.

 

ELIEL
A tua obra recente Untitled (Holding Horizon) (2018), que desenvolveste no âmbito do prémio Artista Frieze, parece estar muito diretamente relacionada com o Bar Dragana. Nesta coreografia, exploras o que significa dançar e mover-se em conjunto num espaço social e afetivo específico, pensando igualmente nas condições em que isso acontece e também nas pessoas que têm a oportunidade de participar nessa experiência.

 

ALEX
Estava a desenvolver este trabalho ao mesmo tempo que geríamos o bar Dragana em Ujazdowski, ao fim de semana, no mesmo espaço. Encaro a partilha de prazer na dança e no movimento em conjunto como uma forma queer de resistência afetiva. E claro que esta peça aborda a experiência da pista de dança queer como local que pode constituir um espaço seguro num ambiente hostil. Esse prazer e ato político podem estar condensados num único gesto de mãos – nos pulsos cativantes e exuberantes. No clube, este gesto é uma maneira de enviar um sinal, uma forma de comunicação e autorrepresentação queer. Neste trabalho, estes gestos “bichas”* são mediados pelo box step (passo básico das danças sociais), um passo de dança social com uma certa rigidez formal. Aqui, o passo básico permite descobrir pontos de encontro, momentos de sincronia.

 

*Nota de tradução: do original faggy gestures

Tradução Nuno Ventura Barbosa

Na penumbra de Untitled (Holding Horizon), cinco corpos dançam em movimentos sincronizados numa negociação entre o desejo pessoal e o coletivo. Numa coreografia de gestos sensuais e alheados, mediados pelo box step (passo básico das danças sociais), o sentimento de prazer e de aliança emerge e coexiste com a sensação de desorientação, limite e perda. Esses corpos contagiam e deixam-se contagiar pelo diálogo ao vivo com a música e a luz, à medida que a repetição e a duração suscitam perceções e associações em constante mutação. Tal como um encontro fantasmagórico, uma celebração e um luto, um ritual imaginário e militante, ou a reminiscência de uma rave.

Embora Untitled (Holding Horizon) pretenda ser uma experiência contínua e de longa duração, o público pode entrar e sair da sala sempre que quiser.Untitled (Holding Horizon) foi criada no âmbito do Prémio Artista Frieze 2018 e apresentada na Bienal de Veneza de 2019.

Vejo a partilha do prazer de dançar e de nos movimentarmos, juntos, em si mesma, como um modo de resistência afetiva queer. Esta peça fala da experiência da pista de dança queer como um lugar que pode representar um espaço seguro no interior de um ambiente hostil. Esse prazer e ato político podem estar condensados num único gesto de mãos – nos pulsos cativantes e exuberantes. Na discoteca, este gesto é uma forma de enviar um sinal, um modo de comunicação queer e de manifestação do eu.

Alex Baczynski-Jenkins, Mousse Magazine, junho 2019

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