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05 Novembro
Rodrigo Amado

Refraction Solo

14 eur
Música
Dupla Lantana + Rodrigo Amado

05 Novembro

sábado 19h30

(dupla)
1 bilhete, 2 concertos

Música
Dupla Lantana + Rodrigo Amado
Preço 14€
Sala Principal

Classificação Etária:

M/6

Saxofone tenor Rodrigo Amado
Fotografia Vera Marmelo

O nome da primeira música é Sweet Freedom, que acena tanto a Freedom Suite, de Sonny Rollins, como a Joe McPhee através do álbum Sweet Freedom – Now What?. De certo modo, a música a solo de Joe também teve grande influência neste disco, pela sua capacidade de se entregar totalmente à música e também pela sua maneira de equilibrar as raízes mais primárias e puras com uma atmosfera espiritual genuína.

Claro que a principal influência do disco foi Rollins. Este álbum foi gravado quando a pandemia começou a acalmar e foram novamente permitidos concertos.

Decidi fazer uma série de concertos a solo para sublimar a energia e as ideias em que trabalhara durante aqueles dois anos de pandemia, que, para mim, foram verdadeiramente interessantes e inspiradores.

Sou um tanto eremita e gosto mesmo (e, às vezes, preciso) de estar sozinho. Por isso, aquele vazio todo – nas ruas, nas estradas, na praia – foi muito interessante e até mágico de certo modo. Apesar de as pessoas terem indicações para ficar em casa, salvo em situações de extrema necessidade, encarei essas indicações com ligeireza e continuei a viver a minha vida, indo ao estúdio ensaiar, indo à praia fazer exercício e aproveitando a oportunidade para visitar alguns locais que normalmente estão demasiado apinhados. Estava determinado a retirar a melhor energia possível daquela situação tão trágica e sombria.

Passei horas e horas no estúdio a ensaiar. Quando a minha rotina de ensaio habitual se começou a esgotar, decidi, entre outras estratégias, explorar músicas jazz clássicas que faziam parte das minhas raízes enquanto músico.

De entre essas músicas – de Coleman, Cherry, Rivers, Monk e Rollins –, as composições de Rollins foram as que tiveram mais eco, em parte porque ele foi uma das principais influências no início do meu processo de aprendizagem.

Só consigo perceber melhor isso agora. Acho que tem a ver com o som. Aquele som de base tremendo e consistente impressionou-me profundamente. Lembro-me de comprar Sonny Rollins, Vol. 1 num vinil de 180 gramas luxuoso e o som dele…!!! Explorando intensamente, tentei isolar os elementos estruturais dessas músicas, presentes não apenas nos próprios temas mas também nas improvisações, algo que fiz de forma deliberada e muito racional, para depois os incorporar nas minhas próprias improvisações, desta feita de modo intuitivo, sem me forçar. No começo, foi um processo frustrante, mas passado algum tempoeu tinha muito tempo… começou a verificar-se um processo de refração e eu conseguia ouvir resquícios de raízes primitivas a misturarem-se com a minha própria linguagem improvisada, transformando-a.

… e adorei.

Entretanto, no meio de todo este processo, também me estava a aperceber das limitações óbvias  do instrumento que tinha. E isso tornou-se numa obsessão.

Tinha experimentado um saxofone tenor Selmer Balanced Action de 1945 e houve qualquer coisa no som dele que me arrebatou. Era um instrumento do último ano da Segunda Guerra Mundial e dizia-se que o metal utilizado na sua fabricação provinha de sinos de igreja que foram derretidos para fazer cartuchos de balas que, depois, eram reunidos e derretidos para fazer estes saxofones. Difícil de confirmar, mas uma bela história.

Após muitas tentativas, consegui comprar esse saxofone (ainda o tenho), mas, apesar de estar satisfeito com o som, continuava a ter dificuldade com uma ação algo estranha das chaves. Assim, em julho de 2020, em pleno período de pandemia, decidi ir a Paris (mais dois ou três passageiros no avião inteiro), para experimentar outro tenor que parecia ter tudo aquilo de que eu precisava – aquele som de Selmer inicial e uma ação de chaves ligeiramente mais moderna e atualizada. Tinha uma hora para o testar e decidir antes do voo de regresso a Lisboa. Acabei por comprá-lo: um tenor Selmer Super Balanced Action de 1951. Foi esse que usei neste disco e que venho usando desde então. Sinto que funciona como uma extensão orgânica das minhas ideias. Mudou a minha forma de tocar no sentido em que me permite não fazer compromissos.

Este concerto em particular teve lugar a 4 de julho de 2021, precisamente um ano depois de ter comprado o saxofone novo. Estavam muitas coisas em jogo: o puro prazer físico que tinha em tocar aquele instrumento; a energia espiritual que restava daqueles dois anos de isolamento, contemplação (sim) e reflexão; podermos dar concertos novamente e interagir com o público (foi um dos meus primeiros concertos passado muito, muito tempo); e também, muito importante, a presença da Eva, da Maria e da Laura. Era uma atmosfera muito especial. Sinceramente, creio que nunca poderia reproduzir a música que toquei nesse dia. Também não o quereria.

 

Rodrigo Amado

Por motivos pessoais, o músico Evan Parker cancelou a sua vinda ao TBA. Em seu lugar, Rodrigo Amado apresentará o seu trabalho a solo Refraction Solo.

 

Refraction Solo é o mais recente trabalho de Rodrigo Amado e o primeiro registo a solo do saxofonista, que é um dos principais responsáveis pela expansão do jazz português pela Europa nos últimos anos. Autor de um jazz explosivo descendente direto do free jazz americano dos anos 1960, o motor dos Motion Trio (ao lado do baterista Gabriel Ferrandini e do contrabaixista Miguel Mira) consolidou uma carreira pautada por colaborações com os mais relevantes improvisadores da contemporaneidade.

Em Refraction Solo, Amado propõe uma exploração insistente da melodia como método para alcançar um som cheio e magnânimo. O saxofone regressa aqui à sua expressão original enquanto instrumento precursor do modernismo na sua mecanicidade e robustez técnica, sem por isso deixar de aludir à poesia.

O tema de abertura do disco, “Sweet Freedom”, coloca-nos diante de dois hinos da Black Liberation Music: “The Freedom Suite” de Sonny Rollins e “Sweet Freedom, Now What” de Joe McPhee (companheiro de Amado no quarteto THIS IS OUR LANGUAGE). Tal como Rollins e McPhee, Amado procura atingir uma liberdade ontológica através da libertação formal, política e espiritual. Lançado pela editora austríaca Trost Records, Refraction Solo é apresentado no TBA após uma passagem pelo Jazzfest Berlin.

 

 

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