Práticas de Leitura: O Desensino da Arte
05 Fevereiro
sábado 16h
Sala Manuela Porto
Duração 2h
Alerta! Na sequência das medidas de combate à Covid-19, para assistir aos eventos no TBA precisa de apresentar um dos seguintes comprovativos:
• Certificado Digital Covid da EU nas modalidades de Vacinação completa, ou de Testagem com resultado negativo (antigénio nas últimas 48h ou PCR nas últimas 72h) ou de Recuperação (há mais de 11 dias e menos de 180 dias).
• Comprovativo de Vacinação completa (Janssen, AstraZeneca, Moderna ou Pfizer) ou de Recuperação emitidos por países terceiros.
• Comprovativo laboratorial de testagem negativa ao SARS-CoV-2 (antigénio nas últimas 48h ou PCR nas últimas 72h).
Não são admitidos autotestes. Crianças até 12 anos estão dispensadas de apresentação de certificado. Crianças a partir dos 12 anos estão sujeitas às mesmas regras dos adultos.
Condições de acesso
• Haverá medição de temperatura sem registo à entrada do espaço.
• É obrigatório o uso de máscara dentro do edifício antes, durante e depois das sessões
• Desinfete as mãos e adote as medidas de etiqueta respiratória
• Mantenha a distância de segurança e evite o aglomerar de pessoas
• Traga o seu bilhete de casa ou, caso tenha mesmo de comprar o bilhete no TBA, escolha o pagamento contactless por cartão de débito ou MBway.
• Coloque as máscaras e luvas descartáveis nos caixotes de lixo indicados
• Nas entradas e saídas, siga as recomendações da equipa do TBA
• Não é possível alterar o seu lugar após indicação do mesmo pela Frente de Sala.
Maria Sequeira Mendes é professora na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Colabora com o Teatro Cão Solteiro desde 2013 e com o Teatro Nacional São João desde 2017. É autora de The Ordeals of Interpretation (2020), tendo igualmente publicado artigos sobre o Teatro Praga, Teatro Cão Solteiro, Sónia Baptista, entre outros criadores. Cocoordena o Clube Espectador da Faculdade de Letras (em parceria com Rua das Gaivotas 6 e o TBA). Coedita o site de poesia e crítica Jogos Florais e encontra-se a escrever um livro sobre lisonja e Shakespeare.
Marta Cordeiro doutorou-se em Belas-Artes – especialização em Teoria da Imagem na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. É professora adjunta da Escola Superior de Teatro e Cinema do Instituto Politécnico de Lisboa. É investigadora integrada no CIEBA onde realiza investigação de pós-doutoramento. Publica regularmente e integra a Comissão Editorial da revista Dobra.
Marisa F. Falcón trabalha na produção da Rua das Gaivotas 6 e como freelancer em direção de cena. É licenciada em Teatro-Produção pela Escola Superior de Teatro e Cinema, onde também lecionou. Tem um mestrado em Práticas Culturais para Municípios pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas e é doutoranda em Estudos de Cultura na Universidade Católica Portuguesa (com apoio da FCT) onde está a escrever uma tese sobre teatro contemporâneo. Além da atividade docente, criou, quando morava em Santiago de Compostela, uma empresa de difusão de dança e teatro e participou em atividades ligadas ao Novo Circo. Escreve para a revista galega de artes performativas RGT – Revista Galega de Teatro.
Como nasceu a ideia de publicar este livro? Porquê?
Há muito tempo que nós (Maria, Marta e Marisa) pensávamos neste tipo de questões: o que deve ser uma escola artística, como se deve ensinar e porquê? O livro foi uma forma de sistematizarmos ideias e de as procurarmos apresentar de um modo claro a outras pessoas. No final do livro incluímos uma série de testemunhos e entrevistas a artistas de quem gostamos, e que nos ajudaram muito a refletir sobre o que é, para si, a escola ideal.
Temos esperança de que, como surge na epígrafe do livro, um dia seja possível fazer esta escola. Até já temos um corpo docente, basta olhar com atenção para as pessoas que contribuíram para o livro. Defendemos uma escola onde não exista uma separação entre áreas artísticas, e foi engraçado descobrirmos que muitos dos artistas com quem falámos se candidataram a mais do que uma escola. O Victor Hugo Pontes concorreu ao balleteatro Escola profissional, e ao curso de artes plásticas, entrou nos dois e decidiu fazer os dois. A Ângela Ferreira explicou que na altura se candidatou à Escola de Teatro e à Escola de Artes. O Filipe Melo contou-nos que estava indeciso e chegou a ir buscar e preencher os papéis para se inscrever na escola de Cinema, mas acabou por não os entregar e decidiu-se pela música. Não existe, no modelo de ensino atual, resposta para artistas como estes.
Quanto tempo demoraram a fazê-lo, conseguem contar-nos um pouco o processo e as suas condições?
Por um lado, não demorámos muito tempo a fazê-lo, o livro foi escrito nalguns meses, já não nos lembramos de quantos. Por outro, estas ideias andaram na nossa cabeça durante muito tempo, por isso também se pode considerar que ele foi sendo pensado ao longo de mais de 15 anos.
Entregámos o livro em 2019, e depois disso ele esteve muito tempo no forno a cozinhar. Isso acabou por ser bom, porque permitiu acrescentar coisas importantes. Por exemplo, em 2020 estreou o espetáculo Aurora Negra, que era tão bom que nos pareceu imprescindível ter uma entrevista com a Cleo, a Nádia e a Izabel. E ainda bem, porque o que elas dizem é muito, muito importante.
Que mais tinham pensado que coubesse e acabou por não caber?
Na altura em que entregámos o livro ficámos contentes. Entretanto, passaram três anos e creio que fomos repensando algumas ideias. Por exemplo, dizemos que na nossa escola ideal cabem todas as pessoas, desde que tenham curiosidade e vontade de trabalhar. Explicamos que não existe um corpo ideal, uma voz, uma formação prévia que seja mais necessária ou importante do que outra. Mas tenho medo de que não tenha ficado claro que uma pessoa com dificuldades motoras ou um invisual seriam tão bem-vindos na escola ideal como qualquer outro aluno (ou participante, na nossa escola não temos alunos e professores). O Raimund Hoghe morreu em 2021, e lembro-me de ter pensado se teria ficado claro no livro que na nossa escola nunca diríamos “não tens o corpo certo, não podes entrar”, como tantas vezes acontece nas escolas artísticas.
Houve uma entrevista que não chegou a ser incluída e tivemos muita pena, pois tinha ideias importantes sobre como poderia funcionar o ensino da música clássica numa escola como a nossa. Pode ser que numa segunda edição o autor mude de ideias.
Existe outra ausência de que me lembrei agora: no livro sublinhamos a importância de a escola ideal valorizar a presença de técnicos a ensinar (mestras costureiras, carpinteiros, etc.) mas acabámos por não entrevistar ninguém com essas valências, o que foi pena. Mais uma coisa para incluir na segunda edição.
Contam organizar mais lançamentos e/ou momentos públicos de discussão do livro?
Talvez, sim, ainda não pensámos bem sobre isso. Mas aceitamos convites.
Que comentários têm tido/ esperam ter?
O livro acaba de sair, por isso ainda não temos muitos comentários, mas esperamos deixar algumas pessoas horrorizadas e outras encantadas.
Dez Mandamentos da Escola Ideal
1) Dar aos participantes liberdade de escolha no seu percurso;
2) Reunir várias áreas artísticas ou eliminar a ideia de área (esta é uma escola de arte, sem uma ideia de especialização);
3) Ensinar por projetos;
4) Disponibilizar ferramentas e meios técnicos para ajudar a desenvolver os projetos e incentivar a ideia de que existem vários modos de fazer;
5) Ter artistas que desenvolvem uma prática a ensinar;
6) Abolir as notas (ter um sistema de Aprovado / Reprovado);
7) Ter uma estrutura leve e flexível, que se adapte à mudança;
8) Ter dotação orçamental própria, autonomia financeira e administrativa e meios técnicos para concretizar o seu programa;
9) Poder selecionar os participantes certos e ter abertura em relação a todas as propostas;
10) Ter uma cozinha.
Práticas de Leitura são encontros de regularidade incerta em torno de publicações entusiasmantes porque urgentes, interessantes, desarmantes ou prementes, autoeditadas ou não. Nestes encontros, trata-se de ler e conversar sobre o que se lê. Alguns encontros contam com a presença de quem escreveu e editou.
Na próxima sessão, Maria Sequeira Mendes, Marisa Falcón e Marta Cordeiro falam-nos de O Desensino da Arte, livro em que propõem um modelo diferente de ensino para as artes.
“Sabemos que uma escola de artes que não se repensa, que não improvisa, que não convida pessoas diferentes para conversar com os seus alunos, que mantém uma estrutura virada para o passado não procurando imaginar o presente, será sempre uma escola pobre. A nossa esperança é a de que este livro, que propõe um modelo de ensino, ajude a fazer vingar a hipótese de uma Escola Ideal.”