Saltar para conteudo
Visitar TBA
Anterior Anterior
18 Março

Oba Loba

12 eur.
Música
Cancelado Cancelado Cancelado Cancelado Cancelado

18 Março

sábado 19h30

Por motivos de greve o concerto de Oba Loba encontra-se cancelado.

Para devolução ou troca dos bilhetes contacte a bilheteira a partir de domingo dia 19 março 2023.

Música
Preço 12 eur.
Passe Cultura (disponível apenas na Bilheteira do TBA)
Sala Principal
Duração 60 min.

Classificação Etária:

M/6

Violino, trompete
Ananta Roosens
Piano, Fender Rhodes
Giovanni Di Domenico
Bateria
João Lobo
Clarinete, Clarinete Baixo
Jordi Grognard
Voz
Lynn Cassiers
Guitarra Elétrica, Baixo
Norberto Lobo

Entrevista de Rui Eduardo Paes a João Lobo e Noberto Lobo, publicada a 13 de março 2023 em parceria com o Rimas e Batidas

Oba Loba: “Não temos a preocupação de ser diferentes”

Em vésperas dos seus concertos no Teatro do Bairro Alto, a 18 de Março, e na SMUP, a 19, conversámos com os  mentores do grupo Oba Loba – João Lobo e Norberto Lobo. Ao longo desse diálogo, antecipou-se o que vamos ouvir: um alinhamento que será feito com base no álbum Pantufa Alcalina, saído numa altura em que a pandemia não permitia que se fizessem espetáculos. Um par de anos após a edição, assim se concretiza o regresso à “normalidade”.

 

É difícil não começar por esta pergunta, mesmo que a questão do nome seja menorizada pelas bandas em geral. As palavras “Oba Loba” não parecem ter sido associadas ao acaso pela sua homonomia, mesmo sabendo que Oba é simplesmente uma saudação, ou uma interjeicão de agrado, e que Loba faz alusão aos apelidos Lobo dos seus protagonistas. Fui a um dicionário do Português do Brasil, necessariamente mais rico do que os do Português da Europa devido à maior quantidade de termos vindos das linguagens indígenas e de África, e acabei confrontado por designações como andiroba, farroba, jandiroba, jojoba, maniçoba, peroba, taioba, etc. Fiquei também a saber que Oba repetido duas vezes, com traço a meio, se refere a obsessão. Ora bem, de onde vem este “Oba Loba”? De uma pesquisa linguística que resulta na vossa escrita emaranhada? De uma espontaneidade dialogante que se traduz no uso da improvisação?

[João Lobo] O nome Oba Loba não vem de certeza de uma pesquisa linguística, mas soa bem e tem um cheiro a celebração, brincando com o nosso apelido comum, meu e de Norberto Lobo. É fácil de dizer em quase todos os idiomas, fica na memória facilmente e tem ritmo.

A vossa música tem sido descrita pelos media, e por vocês mesmos (sinopses de apresentação), como “híbrida” e “ambígua”, evitando-se referências históricas como “fusão” (anos 1970) ou “colagem” (anos 1990). Dá-se a entender que não são os aspetos formais (no sentido da utilização das “cascas” que definem os géneros musicais) que vos interessam, mas os conteúdos entrecuzados e tornados quase indistinguíveis dos mesmos. Reconhecemos recursos picados da folk (sobretudo a “weird” e hippie-punk), do jazz (com o orquestralismo imprevisível de Carla Bley e Charles Mingus), da música de câmara (enfatizados pelo violino e pelo clarinete), da pop (discernível pela predominância que dão à melodia) e de outras músicas não catalogáveis (tipo Penguin Cafe Orchestra). E isto de tal maneira que um léxico é outro léxico e outro, e outro, sendo impossível fixar ou reter nenhum deles em particular. Podemos dizer que o projeto Oba Loba é “post-everything”, e não propriamente o “toca-e-foge” já argumentado pela imprensa?

[J.L.] Já tenho à partida uma certa dificuldade em reter termos que definem o “estilo” musical de um grupo e classificar esses “estilos”. Este grupo então é mesmo muito difícil de colocar numa, duas ou três “caixas” estilísticas, e talvez daí venha o termo “híbrido”. Obviamente que não pensamos nisso. Para nós é importante que haja coerência no repertório e no som do grupo e talvez por ser um grupo de músicos bastante eclético, essas fronteiras entre estilos esfumam-se.

Até que ponto as premissas do duo Norberto Lobo – João Lobo “sobreviveram” à transformação em sexteto e à inclusão de temas compostos por alguns dos novos (agora já não tanto) intervenientes? É-lhes pedido que sigam a mesma linha na (sua) escrita?

[J.L.] Não. Os músicos levam material que acham adequado ao grupo e depois decidimos todos juntos se os temas resultam ou não. Geralmente concordamos com o que funciona e com o que não funciona.

As partituras são só posteriormente trabalhadas/alinhadas em grupo, de modo a haver continuidade e congruência?

[J.L.] O “haver continuidade e congruência” não é uma preocupação inicial. Isso vem no final, quando estamos a construir um disco. Alguns temas nem têm partituras, são ideias muito simples à volta das quais improvisamos, por exemplo.

Qual é o vosso método criativo? Que processos utilizam nos vários momentos da criação musical?

[J.L.] Como não vivemos todos na mesma cidade, só nos encontramos para ensaiar e gravar quase em simultâneo quando temos uma oportunidade. Para cada disco foi diferente, mas em geral o Norberto e eu vamos preparando alguma música para levar, e às vezes o Giovanni e o Jordi também levam algo. Depois, dependendo da música, ou a arranjamos em conjunto ou interpretamos um arranjo que já vem feito.

Especificando o que já disseste, qual é o lugar que dão à improvisação? Surge a meio das composições, sendo pré-determinadas e pré-delimitadas por estas? Iniciam-nas?

[J.L.] A improvisação pode “ser” a peça, estar integrada na peça como um momento ou parte da mesma, assim como pode haver, por exemplo, dois músicos que estão completamente livres a improvisar, enquanto os restantes tocam um arranjo preciso.

Ainda à volta da mesma temática, e porque é relevante que o público saiba das vossas próprias intenções/interpretações, que evolução encontram entre Sir Robert Williams e Pantufa Alcalina? Amadurecimento do projeto e do coletivo? Transformações interiores, mesmo que não sejam imediatamente percetíveis – o problema das audições superficiais? Ou o fator “evolução”, por si mesmo, não vos preocupa? E o de “revolução”, renovamento? É demasiado cedo para essas considerações?

[Norberto Lobo] Dentro da constante e natural procura de novas soluções e sons, penso que, ao mesmo tempo, não há a preocupação de fazer diferente, ou mudar radicalmente de linguagem, de álbum para álbum. Se bem me lembro, o “Sir Robert” era mais drony e quanto a este “Pantufa” sinto como que um regresso a regiões mais arejadas.

Parece-me a mim, observando de fora, que Giovanni Di Domenico ganhou um lugar fundamental na engrenagem da vossa música. Aliás, poderia afirmar-se que constitui o eixo (claro que com João Lobo, pois este vive na Bélgica, e tendo em atenção que o pianista teve outras colaborações com músicos nacionais) do relacionamento Lisboa-Bruxelas que o sexteto configura e que permite ao TBA anunciar que os Oba Loba “vêm novamente a Portugal”, quando um deles vive cá e o outro português anda cá-e-lá. Assim sendo (é?), o que me podem adiantar sobre o que Di Domenico traz à banda?

[J.L.] Todos os membros de Oba Loba são fundamentais e insubstituíveis, porque cada um tem combinações de características tão únicas que é quase impossível encontrar alguém que os possa substituir. O Giovanni é um excelente músico, compositor, pianista e, além disso, tem-se dedicado muito à gravação e à produção nos últimos anos. Ele é também uma pessoa muito dedicada quando gosta de um projeto. Foi ele que gravou e misturou os três discos de Oba Loba, por isso o envolvimento dele e o tempo que dedica à nossa música é, obviamente, superior ao dos outros membros (tirando eu e Norberto). Além disso. o Giovanni, assim como o Jordi, já contribuíram com temas para os dois últimos discos.

E já agora, que critérios seguiu a escolha de Ananta Roosens, Jordi Grongnard e Lynn Cassiers? São/foram devidos às personalidades musicais de cada um/uma? À facilidade com que se incorporariam nos aspetos programáticos de Oba Loba? A algum outro motivo que nada tenha que ver com os questionados, como, por exemplo, a amizade e a cumplicidade entre os participantes?

[J.L.] Todas as razões que referes fizeram parte da escolha destes músicos. A Ananta tem uma enorme sensibilidade musical, aliada a muita abertura e competência. Sabe fazer tudo: compor, interpretar, improvisar, cantar… Além disso toca dois instrumentos muito distintos, o que aumenta as possibilidades de arranjos. O Jordi é semelhante, toca vários instrumentos de sopro, improvisa muitíssimo bem e também tem essa sensibilidade musical apurada. A Lynn é capaz tanto de cantar o que lhe pedimos como de criar ambientes muito fortes com a sua electrónica e também é uma improvisadora de excelência. Todos têm personalidades musicais fortes, todos têm os seus próprios projectos para os quais também compõem, e muita experiência. Quando preparámos o primeiro disco (que acabou por dar o nome ao grupo), escolhemos estes músicos essencialmente por causa do que referi e por serem amigos próximos, tocarem os instrumentos que tocam e serem todos muito versáteis Além disso, é fácil trabalhar com todos.

O vosso último álbum, Pantufa Alcalina (em Português, note-se, tendo nós a noção de que o percurso do grupo tem sido feito, sobretudo, além-fronteiras), foi lançado em plena pandemia mais os vários confinamentos e, por isso, não foi tão escutado como em tempos “normais”. É o seu repertório que vão tocar no TBA a 18 de Março, numa recuperação do que ficou perdido nesse período – designadamente a impossibilidade de haver concertos? Alguns novos materiais serão adicionados? Se forem, prenunciam o que virá de seguida em termos de edição?

[J.L.] Pois, não tivémos oportunidade de apresentar este disco por causa do que referiste e já não tocamos em concerto desde 2018(!). Sim, vamos tocar maioritariamente o Pantufa Alcalina. Não temos neste momento nada em perspetiva para o futuro.

Uma característica de Oba Loba é, como já ficou referido, o seu multi-instrumentalismo, parecendo que seis músicos são mais. Para além do caso da bateria, que, como o piano, é toda uma orquestra, temos um guitarrista (Norberto Lobo) que também utiliza o baixo elétrico, um pianista que toca (por vezes ao mesmo tempo) as versões Grand e Fender Rhodes do instrumento (o último com pedais de efeitos de guitarra), uma violinista (Ananta Roosens) que também recorre ao trompete, um clarinetista (Jodi Grongnard) que se desdobra entre o soprano e o baixo e uma cantora (Lynn Cassiers) que processa eletronicamente a voz com uma série de dispositivos. A riqueza de timbres é impressionante só de ler. O que vos interessou nesta simulação orquestral? O fator coletivo? A variedade de paletas sonoras? Um certo ritualismo? A performatividade inerente a tal combinação de recursos, seja em estúdio como ao vivo?

[J.L.] É uma sorte os nossos amigos tocarem tão bem tantos instrumentos. Claro que gostamos muito de ter muitas possibilidades, até porque a música que escrevemos para este grupo é muito diversa e tendo muitos instrumentos temos mais possibilidades de diversidade no som e nos arranjos. Basicamente temos mais cores na nossa paleta. A performatividade nunca foi uma questão. Aliás, o facto de termos tantos instrumentos só nos dificulta a vida (e especialmente a vida dos engenheiros de som) em concerto. Além disso, é mais fácil sincronizar as agendas de seis pessoas do que de 10.

Há uma certa ideia de beleza nos temas de Oba Loba. Não a clássica, convencional, “grega”, refundida por uma certa pop, mas beleza ainda assim e ainda que nos seja entregue, em algumas ocasiões, como algo de sujo e interferido pelo ruído. Daí esta última pergunta: o que é, para vocês, a beleza na música?

[N.L.] Andiroba, farroba, jandiroba, jojoba, maniçoba, peroba, taioba, etc.

O regresso de Oba Loba a Portugal é sempre motivo de regozijo. A cumplicidade entre João Lobo e Norberto Lobo tem frutificado em inúmeros projetos, todos distintos entre si, desde as incursões em duo registadas no álbum Mogul de Jade até ao mais recente trio em Simorgh. Oba Loba tem sido o contexto ideal para o duo explorar novas ideias de composição e orquestração destinadas a um grande ensemble. Acompanhados por Giovanni di Domenico, Ananta Roosens, Jordi Grognard e Lynn Cassiers, formam um sexteto multicultural centrado em Bruxelas que reúne músicos multi-instrumentistas, todos eles ativos na cena europeia, numa constelação que se mantém inalterável desde a sua origem em 2014. A música solar de Oba Loba é de difícil catalogação. É certo que a melodia é um elemento central e que ora deambula por uma folk distorcida com elementos de neoclassicismo, ora remete para as marchas excêntricas de Carla Bley. O resultado revela-se um híbrido entre vários idiomas musicais onde sobressai uma criatividade lúdica. Oba Loba apresenta no TBA o recém-editado Pantufa Alcalina lançado pela Silent Water no início da pandemia e, por isso, merecedor de uma nova escuta mais atenta.

Este teatro tem esta newsletter
Fechar Pesquisa