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18 - 22 Setembro
Victor de Oliveira

Limbo

12€
Teatro

18 - 22 Setembro

18 a 22 setembro (exceto segunda)
sábado, terça e quarta 19h30
domingo 17h

Teatro
Preço 12€
Menores de 25 anos: 5€
Sala Principal
Duração 80 mins.

Classificação Etária:

M/12

Conceção, texto e interpretação Victor de Oliveira
Música e operação de som Ailton Matavela (TRKZ)
Desenho e operação de luz Diane Guerin
Desenho e operação de vídeo Eve Liot
Colaboração dramatúrgica Marta Lança
Assistente estagiária Miranda Reker
Participação especial Ana Magaia (Excerto de “Poema de infância distante” de Noémia de Sousa)
Produção executiva En Votre Compagnie (Paris)
Coprodução Teatro do Bairro Alto, Théâtre National de Bretagne
Apoio Roundabout.LX – Lisboa; Le 104 – Paris; La Colline, Théâtre National – Paris
Agradecimentos Catherine Blondeau, Edgar de Oliveira, Marta Angelozzi, Ana Maria Akau, Marisa Chinak, Bick Yuen Chinak, Joaquim Abreu, José Cam Fok, Vitor Vargilal, Francisco de Oliveira, Filomena Coutinho, Francisca Bagulho, Horácio Guiamba e Lara de Sousa, Maria Virgínia Monteiro, Antônio de Almeida Mendes, Karl de Sousa
Fotografia Joana Linda

SESSÃO ACESSÍVEL
19 setembro 17h

Sessão com interpretação em Língua Gestual Portuguesa

Contrariamente ao anunciado, não estará disponível audiodescrição nesta sessão. Pedimos desculpas pelo incómodo.

Condições de acesso
• Haverá medição de temperatura sem registo à entrada do espaço. É obrigatório o uso de máscara dentro do edifício antes, durante e depois das sessões
• Desinfete as mãos e adote as medidas de etiqueta respiratória
• Mantenha a distância de segurança e evite o aglomerar de pessoas
• Traga o seu bilhete de casa ou, caso tenha mesmo de comprar o bilhete no TBA, escolha o pagamento contactless por cartão de débito ou MBway.
• Coloque as máscaras e luvas descartáveis nos caixotes de lixo indicados
• Nas entradas e saídas, siga as recomendações da equipa do TBA
• Não é possível alterar o seu lugar após indicação do mesmo pela Frente de Sala.

Cremos que o local do nosso nascimento determina a nossa identidade. Daí a figura do nativo. O nosso lugar de nascimento, porém, não marcar conjunto das nossas origens e pertenças. A pertença não é uma questão exclusivamente territorial. Em muitos aspetos, é uma questão de aceitação e de reconhecimento. Pressupõe que outros nos admitam entre eles. É sempre outra pessoa que assina o meu certificado de pertença. A pertença só faz sentido na medida em que a possibilidade de rejeição é real. (…) Só pertencemos a partir do momento em que aceitamos morar entre outros, que, em contrapartida, nos passam a aceitar como um dos seus, fazendo parte deles.

As nossas origens não se reduzem, assim, ao lugar onde nascemos. Apesar disso, somos sempre originários de algum lugar e partir não mudará esse facto. (…) Somos sempre descendentes de outros, tal como só nascemos uma vez em determinado lugar, este acontecimento não se repete. É idêntico à morte, quer nos seja dada ou nós a façamos acontecer.

Por conseguinte, há algo de singular, indelével e inapagável nas origens — algo de que jamais nos podemos livrar e que, no entanto, não faz delas um destino ou algo destinado. Embora alguém possa escolher morrer, não escolhe o seu lugar de nascimento, nem os seus pais, nem os seus irmãos e irmãs, nem os seus parentes. Nascer em algum lugar, de tal ou tal fulano, é basicamente um acidente, e não há nada que possamos mudar em relação a isso.

Felizes ou infelizes, os acidentes não deixam de ter consequências, mas são, no fim de contas, elementos acessórios se admitirmos que tudo o que é, ou deve ser, nunca se fixa ou se ajusta de antemão. As origens não serão certamente insignificantes. Mas, enquanto acontecimentos fortuitos, não constituem o essencial. O essencial está no trajeto, isto é, no percurso e na travessia de um lugar a outro, no modo de abrir a passagem de um extremo ao outro da existência, ao longo da vida. Essa passagem desdobra-se no próprio movimento e no decurso dos encontros.”

 

Brutalismo, Achille Mbembe, Antígona 2021, pp. 192 (tradução de Marta Lança)

1983 – Sintra

Caminhava com o meu irmão ligeiramente afastados de casa. De repente, ouvimos um cão ladrar. Continuamos a andar pois ele pareceu-nos estar longe. Caminhávamos e brincávamos. O cão continuava a ladrar. De longe. Parecia grande, forte, perigoso. Mas estávamos na rua, em segurança, havia outras pessoas. Caminhávamos e brincávamos. Um ladrar tão assustador só pode vir de um cão preso. De repente, o ladrar intensifica-se. Abrandamos. O ladrar aproxima-se. Paramos assustados. Olhamos para os lados. Ninguém. Retomamos o passo, devagar, atentos. O ladrar tem rosto, um cão grande que corria para nós. Paramos. Sem saber o que fazer. Começámos a correr para trás, mas já é tarde. Ele já lá está. Lança-se sobre o meu irmão. Estou a correu quando o ouço gritar. Volto-me. Alguém assobia e o cão pára. Vai a correr para o dono. O meu irmão chora. Eu não me mexo. O homem afaga o cão, põe-lhe a coleira, olha para mim e grita: “Não te preocupes que ele só ataca pretos.” E vai-se embora.

Domingo seguinte, missa. O padre lembra a passagem da Bíblia, Genesis 4:9.
“E o senhor perguntou a Caim: Onde está o teu irmão Abel?
E Caim respondeu: Não sei. Acaso sou eu o responsável pelo meu irmão?”
Deixei de ir à missa e de acreditar em Deus aos 14 anos, mas ficou-me a questão:

“Acaso sou eu o responsável pelos meus irmãos?”

James Baldwin escreveu: A raça dentro da qual te puseram faz com que tenhas sempre o vento de face e os cães nos calcanhares.

 

Victor de Oliveira

Limbo: lugar ou condição intermediária esquecida entre dois extremos.
Limbo: lugar imaginário para coisas ou pessoas perdidas, esquecidas ou não desejadas.
Limbo: dança das Caraíbas na qual os bailarinos, de costas dobradas, passam debaixo de uma barra; de origem incerta, diz-se estar ligada à terrível experiência nos porões dos barcos negreiros durante a travessia.

 

Há demasiado tempo paralisado no limbo em que a História o colocou, Victor de Oliveira cria em palco um mosaico narrativo que, entre outros elementos, percorre a história íntima de um homem mestiço nascido em Moçambique. Entre a autoficção e a ficção social, questiona as razões do negacionismo histórico, as disputas da memória coletiva, as experiências de crescer na indefinição.

Victor de Oliveira nasceu em Maputo, passou a adolescência em Portugal (onde começou a fazer teatro) e foi terminar a sua formação de ator no Conservatório de Paris, cidade onde vive desde então. Nos últimos anos colaborou sobretudo com Stanislas Nordey e Wajdi Mouawad. Encenou (e apresentou em Portugal) Magnificat a partir de Fernando Pessoa, Final do Amor de Pascal Rambert e Incêndios de Wajdi Mouawad.

 

Para ouvir excertos da música do espetáculo clique aqui

 

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