João Pais Filipe e Pedro Melo Alves + Jonathan Saldanha + berru
22 Dezembro
22 dezembro
quarta 19h30
< 25 anos 5€
Classificação Etária:
M/6percussão João Pais Filipe
percussão Pedro Melo Alves
eletrónica Jonathan Saldanha
instalação visual em palco berru
fotografia Renato Cruz Santos
Alerta! Na sequência das novas medidas de combate à Covid-19, o acesso aos eventos do TBA a partir de 1 dezembro 2021 passa a estar condicionado à apresentação de um dos seguintes comprovativos:
• Certificado Digital Covid da EU nas modalidades de Vacinação completa, ou de Testagem com resultado negativo (antigénio nas últimas 48h ou PCR nas últimas 72h) ou de Recuperação (há mais de 11 dias e menos de 180 dias).
• Comprovativo de Vacinação completa (Janssen, AstraZeneca, Moderna ou Pfizer) ou de Recuperação emitidos por países terceiros.
• Comprovativo laboratorial de testagem negativa ao SARS-CoV-2 (antigénio nas últimas 48h ou PCR nas últimas 72h).
Não são admitidos autotestes.
Crianças até 12 anos estão dispensadas de apresentação de certificado. Crianças a partir dos 12 anos estão sujeitas às mesmas regras dos adultos.
Condições de acesso
• Haverá medição de temperatura sem registo à entrada do espaço. É obrigatório o uso de máscara dentro do edifício antes, durante e depois das sessões
• Desinfete as mãos e adote as medidas de etiqueta respiratória
• Mantenha a distância de segurança e evite o aglomerar de pessoas
• Traga o seu bilhete de casa ou, caso tenha mesmo de comprar o bilhete no TBA, escolha o pagamento contactless por cartão de débito ou MBway.
• Coloque as máscaras e luvas descartáveis nos caixotes de lixo indicados
• Nas entradas e saídas, siga as recomendações da equipa do TBA
• Não é possível alterar o seu lugar após indicação do mesmo pela Frente de Sala.
Entrevista João Pais Filipe, Pedro Melo Alves, Jonathan Uliel Saldanha + berru
Yaw Tembe – Como surge este duo de percussão e que elementos pretendem explorar?
Pedro Melo Alves – Nós já nos conhecemos há uns bons anos, primeiro porque circulamos nos mesmos circuitos no Porto, porque ambos éramos percussionistas, e depois porque comecei a procurar o tipo de sons que o João criava enquanto artesão de pratos e gongos.
Antes da pandemia fizemos a nossa primeira residência de gravação, onde explorámos a frio o que poderia acontecer do nosso encontro. O duo, no fundo é isso, nós os dois a atiramo-nos de cabeça para as possibilidades que existem no encontro das nossas linguagens e sons. É bom frisar que é um projeto de possibilidades em aberto.
YT – Numa escuta antecipada do disco reconheci alguns motivos formais como o uso da percussão como um contínuo, o uso de ritmos mais marcados e cíclicos, em abordagens mais pictóricas, ou bastante espaçadas, reminiscentes do Gagaku japonês.
PMA – Se houve alguma coisa que tivéssemos falado foi mais numa de, no cruzamento das nossas linguagens, explorarmos coisas que já não estivesse a fazer nos meus projetos, nem coisas que o João já estivesse a fazer nos projetos dele. Uma das coisas que aconteceu na gravação (e ainda acontece nos concertos) foi darmos por nós a expandir as possibilidades da percussão (e aí entram muito das coisas que enumeraste) quer da percussão em contínuo, quer da abordagem sonoplasta, textural muito aberta, quer dessa abordagem lontano, meio asiática de um outro tempo que não o nosso tempo ocidental. Coisas que foram acontecendo naturalmente, sem haver propriamente uma conversa.
Coisas que tanto eu como o João tínhamos mas que não estávamos a fazer e que aqui nos excitou ser possível.
YT – Como organizam a orquestração ao nível da percussão e como é que isso é expandido para o vosso trabalho em formações maiores?
João Pais Filipe – O meu trabalho a solo é, basicamente, um trabalho de exploração. É por esse trabalho que consigo desenvolver o resto. É a partir daí que desenvolvo todos os ritmos, sons, texturas. É por causa disso que é possível integrar o resto dos projetos que integro, devido a relação que tenho sozinho com o instrumento.
Neste caso concreto, em duo, vejo-me como uma base mais constante, não tanto como solista.
PMA – No meu caso, tanto vejo isso como um processo muito separado e totalmente independente, onde a escrita é o primeiro passo, como aproximo-me do processo do João, em que primeiro existe a exploração a solo e as conquistas que são instrumentais, onde o processo de composição ou agregação de outras pessoas é feita em função disso.
Este projeto é um encontro das descobertas que têm acontecido a solo e em projetos de cariz mais ‘baterístico’ ou exploratórios da percussão, dos últimos anos. É um sítio de grande liberdade em termos de orquestração tímbrica. Temos pequenas matrizes, pequenas composições que vão se estabelecendo em paralelo com improvisações ou desenvolvimentos em tempo real.
YT – Jonathan, de onde surge este interesse pela relação entre a eletrónica e a percussão, um formato que tens vindo a desenvolver nos últimos tempos?
Jonathan Uliel Saldanha – A relação sempre me pareceu elementar. Sempre me interessei pela percussão, e fui percussionista durante muito tempo. Quando migrei da percussão para a eletrónica, ainda assim, o que me movia na eletrónica era a sua relação com o ritmo. Como é que podia transportar essa dimensão rítmica para uma dimensão tímbrica e harmónica? Sendo que a eletrónica podia proporcionar uma série de mutações completamente distintas, produzir variações infindáveis daquilo que é o timbre da percussão. E esse híbrido interessa-me muito, interessa-me essa mistura do acústico com o digital. Se calhar, com Macumbas e Kampala Unit a mistura é mais direta. Temos mesmo percussionistas e uma eletrónica gerada pela percussão. Mas Fujako, se calhar, é o reverso. É um projeto, supostamente, de música eletrónica onde todos os beats são gravados acusticamente. É como pensar na percussão primeiro, desenhar os elementos acústicos, produzi-los e depois sampla-los e usá-los como um beat, ou num loop. Mas diria que essa relação direta, daquilo que é o timbre da percussão, o seu ataque, a proporção, com aquilo que é a expansão e a mutação da eletrónica parece-me ser um vetor fundamental. É uma dimensão que pode operar tanto no clube como neste concerto.
YT – Relativamente à música de dança, tens ocupado um lugar de proximidade com o dub, qual a evolução que isso tomou na relação com o teu trabalho?
JUS – Eu diria que o dub (continuo a senti-lo) foi mais fundamental há umas décadas atrás, quando estava dentro do que era a produção de dub, e interessava-me misturar ao vivo a partir desse legado. Acho que o dub ajudou-me a perceber que não teria que tocar um instrumento, podia tocar diretamente o soundsystem. Interessa-me muito poder agir diretamente sobre aquilo que é o bloco de produção sonora e manipulações com a mesa de mistura, como por exemplo equalizações, feedbacks e outros processamentos. Poderia operar diretamente sobre o contorno do som e na forma como ele vibrava o espaço. Isso, talvez, tenha sido dos grandes vetores que me fez mergulhar mais neste formato ao vivo, em que opero o som e não necessariamente toco um instrumento. E acho que isso foi fatal. Foi uma mudança ontológica daquilo que era a minha perspetiva como músico. Fiz essa mudança graças ao dub.
Diria que o dub depois ficou integrado no meu processo, e de repente, agora não utilizo tanto a lógica da mesa de mistura nem a manipulação mais clássica do dub. Uso mais a sua dimensão espectral, ou seja, como é que em tempo real com outros, consigo operar o som de forma a que ele possa ocupar o espaço do soundsystem e o espaço onde ele vai ser difundido. E é esse o espaço que me interessa. Já não implica tanto uma mesa de mistura, mas mais opções tímbricas, opções de manipulação e de samplagem e modulação em tempo real. Diria que, sem dúvida, o dub foi fatal nesta decisão, mas assim como toda a cultura de dança, o jungle,… tudo isto sempre conduziu esta relação direta entre o ritmo e a pressão sonora.
YT – Falando das dicotomias homem-máquina, analógico-digital, temas recorrentes no trabalho dos berru, qual a vossa proposta cénica dos para este concerto?
berru – É uma extensão de uma proposta de pesquisa da nossa vontade em perceber a natureza e a tecnologia e perceber de que forma podemos criar relações sustentáveis. Faz todo o sentido a relação da máquina, do digital, do analógico, do construído, destruído, da experimentação porque o nosso trabalho vem muito daí.
A experiência surge na tentativa de entender o que nos rodeia. Trabalhamos com o que nos rodeia e com aquilo que interagimos numa base diária. Estamos agora interessados em procurar modos de comportamento que não são visíveis, ou explorar um objeto para lá da sua função. Neste caso, vamos usar ecrãs. Estamos a explorar interferências magnéticas que são tanto uma componente visual como sonora. Há uma relação simbiótica. Há uma ideia de feedback. O que os músicos fazem afeta a parte visual, assim como a parte visual também afeta o som. Esse feedback é interessante para nós.
Duo de percussão entre duas das figuras criativas mais ativas da cena portuense, que se movem abertamente entre linguagens do rock e da música étnica à música experimental e improvisada. A convite do TBA apresentam-se agora em palco pela primeira vez com os convidados Jonathan Saldanha na eletrónica e o coletivo berru na instalação visual em palco, nomes estruturais do cruzamento entre as artes plásticas, as artes performativas e o circuito da música eletrónica portuense.
Ao centro, um set híbrido de peles, pratos e gongos, uma exploração complexa da percussão tanto como uma abstração de timbres e ressonâncias como um diálogo rítmico contemporâneo. Em seu redor, o processamento eletroacústico e instrumentos eletrónicos de Jonathan Saldanha com a interação reativa de luzes e matérias-primas do coletivo berru.