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23 Outubro
OSSO Colectivo

Invasor Abstracto #4 – Caminhada

Entrada livre
Música
Invasor Abstracto #4 – Osso Colectivo

23 Outubro

sáb 23 outubro 17h às 18h30

Ponto de encontro: TBA
Lotação: 20 pessoas
Dificuldade: Fácil

Música
Invasor Abstracto #4 – Osso Colectivo
Preço Entrada livre (sujeita à lotação) mediante inscrição prévia para o e-mail bilheteira@teatrodobairroalto.pt
Vários locais

Criação Matilde Meireles, Nuno Morão, Nuno Torres, Pedro Tropa, Ricardo Jacinto e Rita Thomaz
Colaboração Juju Bento e Vasco Pita
Coprodução OSSO e Teatro do Bairro Alto
OSSO é financiado por República Portuguesa – Cultura | Direção-Geral das Artes

Condições de acesso
• Haverá medição de temperatura sem registo à entrada do espaço. É obrigatório o uso de máscara dentro do edifício antes, durante e depois das sessões
• Desinfete as mãos e adote as medidas de etiqueta respiratória
• Mantenha a distância de segurança e evite o aglomerar de pessoas
• Traga o seu bilhete de casa ou, caso tenha mesmo de comprar o bilhete no TBA, escolha o pagamento contactless por cartão de débito ou MBway.
• Coloque as máscaras e luvas descartáveis nos caixotes de lixo indicados
• Nas entradas e saídas, siga as recomendações da equipa do TBA
• Não é possível alterar o seu lugar após indicação do mesmo pela Frente de Sala.

Invasor Abstracto é a expressão nómada do OSSO Colectivo e surge de um fluxo criativo partilhado em rede entre seis artistas-viajantes.  Nesta ocupação do TBA, o Invasor Abstracto apresentar-se-á enquanto um corpo fragmentado, disperso, sem centro, distribuído por diferentes espaços e momentos.

Um arquivo online, um mapa-cartaz, diversos espaços distantes e circulares, um palco e uma caminhada pelo espectro eletromagnético definirão, numa geografia fluida e multidimensional, o território deste invasor.

Ao longo de cinco semanas, o OSSO Colectivo habitará o TBA e a sua periferia com uma instalação sonora, pontuada por três momentos performativos e acompanhada por um arquivo online. Estes momentos inauguram três episódios da narrativa de ocupação deste Invasor, que articula vários percursos entre quatro pontos geográficos distantes: o TBA (Lisboa), a OSSO (São Gregório, Caldas da Rainha), a paisagem rural de Wiltshire (Reino Unido) e um lugar-arquivo online.

Esta narrativa tem o seu início na eira da OSSO, e será daí que nos propomos viajar na direção destes territórios e, entre eles, estabelecer uma rede comunicante que nos permita transladar ou intersectar sinais sonoros e visuais cuja manifestação constituirá uma mutação simbólica, geométrica e material. Acompanhem o projeto online em www.invasor-abstracto.pt.

 

A ocupação do OSSO Colectivo no TBA termina com um passeio performativo em grupo, onde o Invasor Abstracto convida o público a explorar o território aural instaurado pelos vários mini-emissores de rádio FM constituintes da instalação e que, para este momento, serão distribuídos e reativados na periferia do TBA

Yaw Tembe, programador de música do TBA – O Invasor Abstracto propõe uma ocupação prolongada de diferentes espaços ̶ do espaço “físico” (através da instalação no TBA) ao espaço eletromagnético e ao cibernético. Como gerem/exploram a especificidade de cada território?

 

OSSO Colectivo – A ideia de que existe uma “especificidade de territórios” é exatamente o foco da nossa proposta, na medida em que aquilo que interessa é mostrar a porosidade dessas supostas especificidades. Há esforços de territorialização por parte de pessoas, grupos, culturas, nações e naturalmente, autores. O Invasor Abstracto é um projeto que coloca estas questões em cima de um tabuleiro de jogo e propõe um espaço criativo e poético para a sua prática. Ninguém, nem nenhum espaço, está a salvo. Qualquer um dos quatro momentos deste Invasor Abstracto não é possível de descrever através de um “meio ou espaço de ação”, pois a fixação de uma correspondência entre um evento e um espaço (média ou evento) vai impedir uma leitura em movimento, que sabemos ser extremamente profícua. E é por isto que o nomadismo, através daquilo que chamamos uma “prática criativa nómada”, é fundamental para mergulhar no projeto; seja como criador e/ou espectador. Neste caso do TBA, a ocupação acontece no trânsito e fluxo de sinais entre os quatro eventos comunicados. Todos os sinais apresentados se manifestam no espaço físico, eletromagnético ou cibernético. A potência desta prática multidimensional, sem centro e em movimento, é exatamente a impossibilidade de estabilizar formas e por isso é fundamentalmente política, porque obriga a uma negociação e adequação constantes.

 

O Invasor Abstracto #4 dá um novo salto. O projeto reconhece a potência estética e social de uma escuta mais abrangente, uma escuta que vai para além da escuta diária. Neste projeto, navegamos entre o visível e o invisível sem distinção, abrindo o horizonte auditivo a outras possibilidades. Ao transpor frequências do espectro que vão além da possibilidade de escuta humana, uma realidade que nos transcende por condicionamentos físicos, torna-se tangível e outros mundos mais próximos (o ouvido humano apenas consegue captar o espectro auditivo compreendido entre os 20 e os 20,000 Hz). O tema do território não é estranho à OSSO. Temos vindo a trabalhá-lo tanto de forma criativa, conceptual, afetiva, social, etc.

 

O nomadismo que intuímos praticar não pretende criar muros ou barreiras entre territórios (reais ou imaginados), antes atrai-nos para a importância e paradoxo da dicotomia do estar em/estar entre. O espaço entre territórios é também território? O tempo da viagem/deslocação entre territórios é um tempo-território, um espaço fluído? A “terra de ninguém”, os espaços não-reclamados: onde estão? Como habitá-los?

 

YT – Quais as implicações estéticas e sociais ao lidarem com a visibilidade e a invisibilidade destes territórios? Estamos numa fase da história em que a extensão dos sentidos dispensa a diferenciação entre o visível e o invisível?

 

OC – Não tenho a certeza do modo de fazer essa distinção. Parece-me que uma forma cabe dentro da outra. Quero dizer, sem invisibilidade não há visibilidade — precisamos da sombra para ver a luz e vice-versa — e se os sentidos se ganham nas zonas de transição isso implica deixar de ver e ouvir para voltar a ver e a ouvir! Curiosamente o nosso trabalho está muito focado nestas transições. O trabalho em coletivo pode explicar esse descentramento porque impõe naturalmente menos centro, cria zonas de definição.

 

A invisibilidade de um território pode ser condição para que esse mesmo território se mantenha, se conserve. O esquecimento/invisibilidade cria também uma certa poética (penso em baldios, fábricas abandonadas, vales resguardados, cumes solitários). Ao explorarmos e misturarmos a experiência de vivências em vários territórios, estamos também a provar dessa poética, e a mesclá-la com os nossos próprios esquecimentos e deambulações.

 

YT – Vários projetos do OSSO Colectivo têm existido através de mapeamentos sonoros, gravações de campo, e sistemas de participação coletiva, manifestando um interesse pela questão social através de uma escuta partilhada. Qual tem sido o retorno destas experiências coletivas de perceção acústica do território em relação à transformação da paisagem? Como discernir a distinção entre escuta e criação, perceção e construção?

 

OC – A escuta partilhada está na base do Invasor Abstracto enquanto metáfora do modo como cada um de nós cria/constrói/perceciona esta viagem real e imaginada entre a casa da OSSO e os diferentes espaços de apresentação, e como daí podem surgir interferências e intersecções que nos possibilitam olhar de um modo mais em conjunto para os objetos e paisagens escutados. Esta escuta partilhada é para nós fundamental na implementação de um qualquer espaço comunitário e, portanto, o seu exercício é potencialmente político e social, mas, acima de tudo, é a disciplina base para qualquer esforço de criação e construção em coletivo.

 

É tudo um pouco faces da mesma coisa, não achas? É difícil escutar sem perceber ou criar sem construir. No entanto, é importante deixar espaços vazios ou de difícil perceção entre essas ações. Ajuda a defini-las. Mesmo que se vá deixando um mar de interferências. Isto tanto acontece no desenho, na instalação dos objetos sonoros como nas próprias composições e emissões de rádio.

Por exemplo, quando falamos da escuta da paisagem parece-nos ser importante que ela seja potencialmente transformadora, não que ela própria esteja num processo de transformação. Parece-me ser esse o retorno mais justo e interessante.

…“Tudo o que está na paisagem à hora do poente”…

 

A prática das gravações-de-campo, tão cara aos membros do coletivo, pode assumir vários tipos de prática e alimentar diversos objetos: mapeamento sonoro, documentação de um acontecimento acústico peculiar, reinterpretação de uma paisagem sonora, guião para uma peça ou performance. Agora, de notar que qualquer forma de captação já condiciona o tipo de perceção: nada substitui a auralidade pessoal de cada ouvinte, com a sua fisionomia única. Nesse sentido, acredito que a escuta é um processo profundamente criativo, construtivo, e parte do nosso trabalho é precisamente, através de vários prismas e vetores, dar ferramentas e criar contextos poéticos para que esse processo possa ser aprofundado e apreciado.

 

 

YT – A história da rádio está ligada a movimentos de contracultura e a formas de comunicação subversivas. Assumem esse vínculo?

 

OC – De certa forma, sim. Ocupação e difusão são noções intrínsecas à emissão radiofónica, tanto pela sua facilidade como pelo seu alcance. É um meio transparente e sensível à mais pequena perturbação, por outro lado é um meio que tudo atravessa. É precisamente sobre essa força e hipersensibilidade que estamos a trabalhar.

 

Mas a história da rádio também está ligada a formas de controle, propaganda de estado e ocupação ideológica. Não estamos propriamente interessados em territorializar ideologicamente um meio, nem achamos que qualquer que seja o meio, por si, é mais ou menos democrático, subversivo ou ferramenta de contracultura. A nós interessa-nos identificar os dispositivos, as suas múltiplas filiações ao longo da história, no espaço e no tempo, e em casos específicos manifestarmo-nos poeticamente através deles.

 

Penso que não assumimos esse vínculo de forma direta, ou pelo menos não na aceção clássica de “contracultura e subversão”, embora o tipo de emissões que fazemos e propomos, sejam “programas” da OSSO ou dos vários convidados que temos em cada edição da EIRA, escapem, por assim dizer, a uma lógica de rádio mais convencional, seja nas “escolhas” musicais, nos tipos de discurso e de diálogos, ou na presença de “microfones abertos” (como janelas em tempo real para uma determinada paisagem sonora), entre outros formatos possíveis e imaginados.

 

 

YT – Propõem também uma caminhada exploratória ao território aural instaurado pelos quatro pontos de transmissão FM. Há alguma relação entre o espaço “democrático” da rádio e a liberdade de criação do percurso, dentro da lógica da deriva situacionista?

 

OC – A rádio (enquanto meio de difusão eletromagnético) não é um espaço democrático, mas pode, enquanto dispositivo (emissor com uma arena de radiação limitada, para ser escutada em múltiplos recetores distribuídos e nómadas), permitir uma escuta deambulatória, pessoal e eminentemente particular e única, nas relações que se podem estabelecer entre os conteúdos sonoros difundidos e o espaço geográfico ocupado pelo corpo do ouvinte.

Utilizar vários destes dispositivos em sobreposição numa mesma zona geográfica e associá-los a uma caminhada no seio deste projeto pode permitir exatamente interferências não previstas entre diferentes conteúdos sonoros e o espaço da cidade: podem assim surgir formas incertas e muito pessoais. Interessa-nos sobretudo o modo como os espectadores que forem ao TBA levantar os transístores-auscultadores para realizarem a caminhada connosco farão a escolha dos seus trajetos no espaço, sabendo de antemão que o foco da caminhada são exatamente as interferências imprevisíveis entre as diferentes emissões que irão ocupar a periferia do teatro. Como tudo no Invasor, esta caminhada não tem um desenho definido, mas tão somente, um modo de escuta, enunciado através da instalação na Sala Manuela Porto. A deriva, como exposta pelo situacionismo, está ligada aos processos de criação e de exibição pública do Invasor Abstracto.

 

O espaço atual da rádio que possas chamar de democrático poderá ser considerado talvez mais com um espaço marcado por uma dimensão comercial. O tempo das rádios livres em Portugal já teve o seu momento. Há uma intenção de criação que se reflete na distribuição específica dos diversos pontos de emissão que são articulados com os conteúdos da emissão. Será uma caminhada que procura uma situação de deriva e também de deambulação, mas considerando o contexto muito específico deste projeto.

 

YT – Quais têm sido os desafios ao incorporar estas ideias (tão vastas) num formato de concerto? Qual o lugar do público nesta experiência?

 

OC – O concerto não está fora de um sistema mais amplo criado pelo Invasor Abstracto. O lugar do público deve ser instável e se houver curiosidade então este concerto não tem hora de entrada nem de saída.

 

O concerto, enquanto espaço de performatividade e encenação, tem uma linha temporal, mas também uma cenografia e a presença de sons, objetos e motivos que, de alguma forma, estão presentes, habitam, quer o arquivo-em-construção visitável em invasor-abstracto.pt, quer as emissões FM na Sala Manuela Porto, quer as nossas próprias práticas e afinidades enquanto músicos e performers.

O desafio prende-se com a vontade de criar um espaço de fluidez e contemplação, mas também potenciar uma relação sensorial em presença deste universo de pequenas invasões (do coletivo para o público, e vice-versa).

 

YT – O que podemos esperar da cenografia para o concerto no TBA?

 

OC – A cenografia do concerto desenha-se em total articulação com o arquivo, a instalação e a caminhada. Ela não termina nem no espaço nem na duração designada para o concerto. E é assim que gostávamos que o público entendesse esta manifestação do Invasor no palco do TBA: como um pormenor de um cenário infinito.

 

Primeiro temos de esclarecer que não vemos a cenografia do concerto distinguida do desenho do projeto Invasor, como um todo.

 

Existe à partida um desenho/partitura geral do Invasor Abstracto, com os seus momentos performativos e o arquivo online como partes constituintes

 

Esse desenho inclui todos os elementos que contribuem para estabelecer uma determinada atmosfera, visual, espacial, sonora, temporal, criada por diferentes grupos de constelações de elementos ou relações de diferentes elementos de diferentes naturezas.

 

A cenografia do concerto envolve a representação de alguns espaços que marcam a paisagem que caracteriza a presença física do espaço de criação e residências artísticas da OSSO, na sua componente quasi-rural, envolve a utilização de alguns objetos que se encontram nessa paisagem, envolve a presença dos músicos e dos seus set-ups instrumentais, envolve a escuta e visionamento de elementos áudio e visuais que povoam esse território físico, mas também os espaços de viagem e de deambulação de cada um dos artistas-nómadas que compõem o coletivo.

 

 

YT – Como surgiu a ideia de formarem o coletivo? É um método eficaz de sobrevivência no meio artístico?

 

OC – A agregação de artistas em coletivos tem uma história longa, profícua e muito diversa nos modelos e objetivos. Na OSSO, a situação é bastante clara: há uma estrutura que contempla uma direção artística, de gestão e produção, de investigação, técnica e de comunicação. Estes papéis são desempenhados por alguns dos membros mais ativos do grupo, todos eles também artistas e/ou investigadores da OSSO, que suportam uma infraestrutura que permite apoiar o desenvolvimento dos trabalhos do coletivo e dos seus membros, ancorado num programa de residências artísticas numa zona rural perto das Caldas da Rainha. Este programa é fundamental para abrir espaços de contacto mais pontuais com outros artistas, investigadores e coletivos, favorecendo um trabalho em rede nacional e internacional.

Acreditamos que todo e qualquer esforço de organização em pequenos coletivos altamente focados na criação e sustentabilidade de redes de circulação com outros coletivos e instituições culturais e sociais é fundamental para criar uma alternativa real e forte à crescente desestruturação dos tecidos comunitários nas artes, que se tem observado numa crescente atomização dos artistas e da natureza dos seus trabalhos.

 

No caso específico da OSSO, a “decantação” em coletivo organizado prende-se também com a pré-existência de um historial de trabalho artístico feito mais em união do que em solidão (vide PARQUE ou ECOS), pretendendo a presença e a partilha de redes e afinidades de modos de existir e trabalhar (vide Oficinas do Convento ou Sonoscopia), e tendo a felicidade (que, como sabemos, também dá trabalho) de podermos contar com uma infraestrutura (uma pequena “fábrica de tudo”) que nos possibilita fazer melhor o nosso trabalho, e acolher outros artistas e coletivos que perseguem esse mesmo ethos.

 

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