Há algo de irreversível no ar: notas para descolonizar o inconsciente
03 Fevereiro
quarta 3 fevereiro 18h
Suely Rolnik é psicanalista, professora Titular da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (desde 1979), onde fundou o Núcleo de Estudos da Subjetividade no Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Clínica, e professora convidada do Mestrado Interdisciplinar em Teatro e Artes Vivas da Universidade Nacional da Colômbia (desde 2013). Autora de inúmeros ensaios e livros publicados em vários idiomas. O seu livro mais recente, de 2018, acaba de ser publicado em Portugal com o título Esferas da Insurreição. Notas para uma vida não chulada (Lisboa: Teatro Praga/Sistema Solar, 2020). É coautora com Félix Guattari de Micropolítica. cartografias do desejo (Vozes, 1986) publicado em oito países.
Parceria: Editora Sistema Solar no âmbito das ed._______.
ed._______, uma chancela composta por duas coleções – “Série” e “Sequência” -, resulta da colaboração entre o Teatro Praga e a editora Sistema Solar, com coordenação de Rita Natálio e André e. Teodósio. A coleção “Série” divulga o património imaterial das artes performativas contemporâneas. A coleção “Sequência” organiza-se em livros temáticos oriundos de diversas disciplinas, que ofereçam uma reflexão sobre sistemas de poder e protesto na atualidade.
Há algo de irreversível no ar
Na sua dobra – financeirizada, neoliberal e, indissociavelmente, neoconservadora –, o regime colonial-racializante-capitalístico tornou-se globalitário, atingindo um nível extremo de sofisticação perversa. A pandemia da covid 19 e as suas mutações tornam tal perversão mais explícita do que nunca. Um regime não é uma abstração, mas uma realidade cuja consistência existencial se plasma na esfera micropolítica, esfera das políticas do desejo face às demandas da vida quando esta se vê sufocada nas formas do presente. Nas respostas do desejo a esta demanda se distinguem as micropolíticas, as quais variam, em graus distintos, entre dois extremos; delas resultam os regimes de inconsciente dominantes e suas formações no campo social. De um lado, as micropolíticas orientadas por forças reativas que operam para conservar o statu quo a qualquer preço, como as que vem tomando a cena de assalto por todo o planeta. De outro, aquelas orientadas pelas forças ativas da imaginação criadora que constroem outros modos de existência. Micropolíticas ativas não só vem proliferando cada vez mais intensamente por toda parte, mas são portadoras de uma nova potência de combate, a de destituir uma das principais engrenagens do regime de inconsciente dominante: a racialização (de cor de pele, de classe, de género e de sexualidade). Há algo de irreversível nesta destituição.
No Zoom do TBA: https://us02web.zoom.us/j/85937623352
Como escreveu Paul B. Preciado sobre Suely Rolnik, a ondulação e a suavidade aveludada do seu pensamento, o seu riso contagioso, a falta de vergonha e de medo permitem-lhe entrar nas camadas mais obscuras do fascismo contemporâneo. Assim, guia-nos nos lugares que mais nos aterrorizam para tirar dali algo com o que construir um horizonte de vida coletiva, uma artista cuja matéria é a pulsão. Uma conferência na sala Zoom do Teatro do Bairro Alto em parceria com a Editora Sistema Solar por ocasião do lançamento de Esferas da Insurreição – notas para uma vida não chulada.