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31 Janeiro - 04 Fevereiro
Rita Natálio

Fóssil

AdF.22 – Materializar os Impossíveis
Artes Performativas
Atos de Fala

31 Janeiro - 04 Fevereiro

Exibição: de 31 de janeiro (21h) a 04 de fevereiro (21h).

Conferências-performance

Disponível no YouTube do TBA e em www.atosdefala.com.br

Artes Performativas
Atos de Fala Programa Digital
Canal YouTube
Duração 40minutos

Performance e texto: Rita Natálio
Som: Rui Antunes e João Diogo Pratas
Pintura e escultura: Hugo Canoilas
Documentação vídeo usada na versão online: Claraluz Keiser, Luísa Homem, Frederico Baptista/Egeac, Rita Natálio
Diálogos textuais: Elizabeth Povinelli, Katryn Yussof, Karen Pinkus, Malcolm Ferdinand, Miguel Rego, Jornal Mapa
Tradução: Tiffany Higgins
Assistência artística: João dos Santos Martins
Produção: Associação Parasita
Ensaios e residências: MDance, Espaço Alkantara, Estúdios Victor Cordon, PENHA SCO.
Apoio: Fundação Calouste Gulbenkian, Atelier-Museu Júlio Pomar

Desde 2011, Atos de Fala tem-se afirmado como uma plataforma experimental devotada ao desenvolvimento do formato conferência-performance e das suas diferentes relações entre corpo, matéria e texto. Nesta edição, AdF realiza sua programação num formado online, selecionando a programação a partir de uma open call que decorreu em novembro 2021 e que incidiu especialmente na região ibero-americana. AdF.22 – Materializar os Impossíveis acontece numa parceria que liga o Teatro Bairro Alto a Santiago do Chile (NAVE) e ao Rio de Janeiro (Centro Coreográfico). Durante este período, as conferências-performance selecionadas serão apresentadas online.

Apoio: IBERESCENA, Goethe Institut – Rio de Janeiro e FAPERJ

Não  há  geologia de um lado e histórias de outro. Há, na verdade, um eixo de poder e performance que se encontra dentro destes objetos geológicos e das narrativas que contam sobre a história humana. As origens do Antropoceno, viajando para a frente e para trás através da materialidade e da narrativa, são intensivamente políticas na forma como nos trazem o presente e dão forma a sujeitos criadores de mundo.

Kathryn Yussof, A billion black anthropocenes or none, 2019.

 

Linguagem e extração: uma linha sinuosa operando por corte, perfuração, divisão entre pessoas e coisas. Linguagem como extração: a abstração e reificação de significados, conceitos, géneros e identidades a partir da extração energética do mundo. A materialidade dos mundos opera na imaterialidade da linguagem, numa operação densa da constituição de regimes exclusionários e imunitários, garimpando e, ao mesmo tempo, mantendo o distanciamento social de outres enfermes, disformes, marginais, minoritários, específicus, monstruoses, excessives ou deficitáries de mundos.

Interessa-me o aspeto verbal das apreensões do Antropoceno, a relação entre geologia e linguagem, mas também entre extração e sexualidade.  Antropoceno é, de certo modo, a abertura a uma geolinguagem: proclama uma identidade para a espécie humana através de um comum geológico e das suas formas de ocupação da Terra. Produz a transferência da escala temporal humana para uma dimensão geológica, conectando o layering estatigráfico (o estudo do tempo pela noção de camadas) com a historicidade da ocupação do território pela espécie humana. Espécie e território passam assim a estar intrinsecamente conectados pela inscrição, pela marca estatigráfica. Porém, no caso da leitura antropocénica, essa inscrição parece ser negativa, uma vez que retira possibilidades à terra, e ainda aumenta a pressão de uma forma de inscrição sobre outras possíveis. Assim, Antropoceno é a construção de uma marca temporal apoiada por uma linguagem negativa sobre a terra.

Em Fóssil, imaginei um livro-performance onde a linguagem atravessa diferentes escalas e se expõe à auto-sabotagem e ao desaparecimento. Tratava-se de projetar  a paradoxal inscrição de uma linguagem humana sobre a terra, mas também de imaginar uma perceção do deep time, reterritorializando e situando o corpo nessa escala temporal de longuíssima duração, onde a escala humana precisa necessariamente deslocar-se para ser pensada.

 

Download do excerto do livro-performance Fóssil, 2020. Diagramação Paula Delecave

Fóssil é a continuação da série de palestras-performances de Rita Natálio iniciadas com Antropocenas/2017 (colaboração com João dos Santos Martins) e Geofagia/2018 em torno das relações entre linguagem e geologia.

Aqui constrói-se um fóssil do extrativismo contemporâneo, refletindo sobre como a geologia e os processos que ocorrem “dentro da terra” estão inscritos e se inscrevem na história humana. Se a figura do zombie foi central para entender o funcionamento do capitalismo e do conceito de biopolítica no século XX, a figura do fóssil – o que é extraído da terra e que acumula tempo ou história – convida hoje a pensar sobre a crise generalizada que muites têm chamado de Antropoceno.

Fóssil convive com uma série de trabalhos do artista visual Hugo Canoilas, proposta que surgiu do convite do Atelier-Museu Júlio Pomar para uma performance no fecho da exposição Antes do Início e Depois do Fim, comissariada por Sara António Matos e Pedro Faro. A performance foi também apresentada no contexto da rede Terra Batida, uma rede de pessoas, práticas e saberes em disputa com formas de violência ecológica e políticas de abandono.

Na versão online, propõe-se uma colagem e adaptação do projeto original ao formato online, recorrendo a diferentes formatos de documentação.

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