Saltar para conteudo
Visitar TBA
Anterior Anterior
25 - 27 Março
Ana Rita Teodoro

aaah

12€
Dança
Dupla

25 - 27 Março

sexta e sábado 19h30
domingo 17h

SESSÃO ACESSÍVEL
27 março 17h: sessão com interpretação em Língua Gestual Portuguesa

CLUBE ESPECTADOR
27 mar após o espetáculo na Sala Manuela Porto com moderação de Maria Sequeira Mendes

Dança
Dupla Dupla Ana Rita Teodoro
Preço 12€
Menores de 25 anos: 5€
Passe Ana Rita Teodoro 9€ + 9€
Sala Principal
Duração 60min

Classificação Etária:

M/6

Conceção e interpretação Ana Rita Teodoro
Contribuição dramatúrgica João dos Santos Martins
Luz Mariana Figueroa
Figurino Marisa Escaleira, Nuno Nogueira, Salomé Areias e Ana Sargento
Produção Associação Parasita / Carolina Gameiro e Lysandra Domingues
Apoio Fundação Serralves, República Portuguesa – Cultura/Direção-Geral das Artes, Teatro do Bairro Alto, Casa da Dança, Forum Dança, OPART | Estúdios Victor Córdon, Teatro da Voz e Companhia Olga Roriz
Canções de Ana Rita Teodoro – “Lúcidos Finais” inspirada no Canto “Nossa Senhora da Azenha” das Adufeiras de Monsanto; “Peito Gaiola” inspirada no Canto “A Confissão da virgem” de Deolinda Branco Pereira
Texto Adaptado por Ana Rita Teodoro, a partir de excertos da carta aberta/reclamação de Laura Ramos. Carta integral  e Petição Pública.
Agradecimentos André Teodósio, Rita Natálio

O TBA fica junto ao Largo do Rato.

Condições de acesso

  • À entrada do espaço, poderá ser medida a temperatura sem registo, enquanto a medida for recomendada pelas autoridades de saúde. O uso de máscara é obrigatório antes, durante e depois da sessão.
  • Solicitamos que desinfete as mãos à entrada e adote as medidas de etiqueta respiratória.
  • Mantenha uma distância de segurança e evite o aglomerar de pessoas.
  • Traga o seu bilhete de casa ou, caso tenha mesmo de comprar o bilhete na nossa bilheteira, escolha o pagamento contactless por cartão de débito ou MBway.
  • Nas entradas e saídas, siga as recomendações da equipa do TBA.
  • Devido às indicações da Direção-Geral de Saúde, não é possível entrar na sala após o início da sessão ou alterar o seu lugar após indicação do mesmo pela Frente de Sala.

Ana Rita Teodoro é mestra em Dança, Criação e Performance pelo CNDC de Angers e a Universidade Paris 8 (2011/2013), desenvolveu como pesquisa a criação de uma Anatomia Delirante. Da qual resultou a Coleção Delirar a Anatomia, pequenas peças de dança dedicadas a uma parte do corpo: Orifice Paradis (2012), Sonho d’Intestino (2013), Palco e Pavilhão (2017). Em 2002, foi aluna do Curso de Pesquisa e Criação Coreográfica do Fórum Dança e em 2005 do Curso de Coreografia organizado pela Fundação Calouste Gulbenkian. Participa nas atividades de investigação do c.e.m. onde inicia o estudo do corpo via a anatomia experiencial, a filosofia e o cruzamento multidisciplinar, com Sofia Neuparth, entre outros. Em 2007/2010 fez o Curso de Instrutores de Chi Kung, da Escola de Medicina Tradicional Chinesa de Lisboa. O Butoh de Tatsumi Hijikata tem sido uma das suas áreas de maior investimento artístico. Desde 2007 participa em diferentes workshops liderados por artistas e pesquisadores como: Tadashi Endo, Sankai Juko, Torifune, Akira Kasai, Min Tanaka, Yoshito Ohno, Patrick De Vos e Christine Greiner. Em 2015, recebe a Bolsa de Aperfeiçoamento Artístico da Fundação Calouste Gulbenkian para estudar com Yoshito Ohno no Japão e em 2016, desenvolve uma pesquisa em torno da prática do Butoh com o apoio Aide à la recherche et au patrimoine en danse do Centre National de la Danse, CN D (Pantin). Esta pesquisa culmina na performance-conferência intitulada Your Teacher, please (2018). Ana Rita Teodoro criou as seguintes coreografias a solo – MelTe (2009), Curva (2010), Assombro (2015), aaa partir (2021) e a sua primeira grande peça de grupo FoFo (2019) que contou com o apoio New Settings da Fundação Hermes. No contexto do serviço pedagógico do CN D, Ana Rita concebeu duas conferências espetáculo para o público jovem: Conferência 1 – O Corpo (2019) e Conferência 2 – Pequena História do imaginário corporal (2020). No mesmo contexto, Ana Rita prepara uma terceira conferência relativa a como o pensamento sobre o corpo se manifesta na dança. Os seus trabalhos já foram apresentados na Áustria (MUMOK e 8:tension Festival Impulstanz em Viena), na Alemanha (Volksbüne em Berlim), em França (Théâtre de la Cité International, Palais de Tokyo em Paris, no CN D em Pantin, no Théâtre de Vanves em Vanves, Festival DãnsFabrik—Le Quartz em Brest, La Manufacture em Bordéus, Festival Constellations em Toulon) em Portugal (Culturgest em Lisboa, Materiais Diversos em Minde, Teatro Sá da Bandeira em Santarém, Festival DDD e Serralves no Porto) e na cidade de Taipei em Taiwan. Trabalha atualmente com o músico Julien Desprez e é intérprete da sua peça Coco (2019), trabalha em diversos projetos pontuais com artistas como Nadia Lauro (Garden of Time, Festival de la cité Lausanne 2020), João dos Santos Martins (Trolaró, Casa da Dança de Almada – 2020) e a artista visual Adelaïde Feriot (Palais de Tokyo – 2019). Foi igualmente intérprete de João dos Santos Martins em Projecto Continuado (2015), em Companhia (2018) e em Antropocenas (2017) do mesmo coreógrafo e de Rita Natálio. Foi artista associada do Centre National de la Danse, CN D (Pantin) entre 2017 e 2019 e é artista da Associação Parasita desde a sua data de criação em 2015.

Enquanto vinha para o TBA ensaiar no final de Janeiro, ouvi uma série de quatro podcasts do programa Les Chemins de la Philosophie sobre possíveis caminhos para uma Filosofia do Nascer. Nessa série, apercebi-me de que a morte, na História da Filosofia, é o elemento primordial da existência humana, e de que o nascimento sempre foi um assunto mistério, tabu, ligado apenas às mulheres. Hannah Arendt em Condição do Homem Moderno (1958), começa a contrariar essa ideia, dizendo que “os homens, embora devam morrer, não nascem para morrer, mas para começar”.
Vinda eu de uma experiência de maternidade em tempos de pandemia, foi irresistível não juntar discurso e arte a este assunto tão pouco falado. Espero com a peça aaah contribuir para uma filosofia de nascer.
Ao mesmo tempo que aaah denuncia formas de nascer que são violentas para o corpo da mulher (e para quem nasce), a peça procura pensar o nascer na perspetiva de Arendt, como o direito a começar sempre outra vez, contrariando a pulsão para o fim. Nascer é uma coisa séria e não apenas um assunto biológico que apenas diz respeito às mulheres que desejam a maternidade. Talvez, contribuindo e pensando na capacidade humana de ação e de recomeço, pensando e participando no emaravilhamento que é a emergência de um novo ser, possamos acolher com mais capacidades novas emergências e ter mais coragem para novos começos.

Dito isto e, reforçando o meu desejo de ver em palco outras idades, para que a dança possa existir para lá de um corpo capacitista, alerto também para a importância de conhecer e reconhecer a nossa herstory (gostaria de pouco a pouco substituir o termo history para herstory – contado pelas mulheres – como propõe Jeanne Burgart Goutal em être écoféministe théories et pratiques) e de cuidar de todas as etapas da existência de um ser humano. Porque não se trata de um novo começo que não se consciencialize como parte de uma continuidade. Trata-se de um começo que traz esperança na novidade.

Mais recentemente Emanuele Coccia em Métamorphoses (2020) desenvolve bem esta ideia de continuidade, cito: “chacun des vivants exprime la vie de la planète entière passé, présent et future” (…) “Naitre, pour tout être vivant, c’est faire l’expérience d’être une partie de la matière infinie du monde.” Tradução livre: “cada um dos seres vivos exprime a vida toda do planeta, passado, presente e futuro” (…) “Nascer, é para todos os seres vivos, ter a experiência de ser parte da matéria infinita do mundo.”

 

Ana Rita Teodoro

 

Canto Peito Gaiola

A cada nascimento
Vem ao mundo algo novo
Anuncia esperança
De ser distinto entre iguais

 

1 ou 2
3 ou 4
7ou 8
10 ou menos
Imorrível

 

Cabeça Tronco e membros
É coisa pouco importante
Um não nasce para morrer
Mas para sempre nascer

 

Imorrível
Invisível
Ouvir e Formular

 

Por isso eu choro
um choro tão sozinha
E danço com os ossos
A solidez de ser existir

 

Aceitar
Recusar
Escolher
Ouvir e formular
Aaahhh

 

Se coragem tu precisas
Bate no peito gaiola
Aprende com o Gorila
Do peito solta o aaahh

 

Aaahhh

 

Lembraste de ti pequenino
Lembraste da tua cara
Aquela sopa primeira
Na tua boca estrelou

 

Ouououou
Dada
Mama
Papapa
Tatatata
Da ma pa ta (dá-me a pata)

 

9 meses para parir
São 280 dias
Quem um dia quis contar
Numa pedra fez um risco

 

Da ma pa ta (dá-me a pata)
Recusar
Escolher
Sim eu sei sim eu sei sim

 

Tanto tempo caladas
Acreditaram não saber
O Doutor ajuda
“Para que é que está a gemer?”

 

Aaah
Ououou
Sim eu sei
Brrrrr
Empatia

 

Se coragem tu precisas
Bate no peito gaiola
Aprende com o Gorila
Do peito solta o aaahh
Aaahhh

 

O futuro eu sei lá
Quando agora aqui estou
Respiro num beicinho
Para um futuro conduzir

 

Brrrbrbbrbr
Invisível
infinito

 

Conheces tu tua cara
Toda ela enrugada
Não conheces com certeza
espero eu que a conheças

 

sim eu sei
não não sei
3 ou 4
Misturado
Tre tro qua ês (palavra inventada que resulta da mistura de três e quatro)

 

No peito gravata de osso
Na barriga gordura
Posso até fechar os olhos

 

Que ainda aqui está

 

Estrelar
Enrugar
Empatia

 

Por isso eu choro
um choro tão sozinha
E danço com os ossos
A solidez de ser existir

 

Se coragem tu precisas
Bate no peito gaiola
Aprende com o Gorila
Do peito solta o aaahh
Aaahhh

aaah poderá ser um último suspiro sonoro ou o princípio de um grito de coragem.
aaah poderá ser a expressão de um corte, ou de um qualquer outro gesto que uma vez executado deixa marcas tão evidentes que uma coisa passa a ser, obrigatoriamente, outra coisa.

aaah poderá ser uma celebração performativa e poética das coisas que findam, apelando à lucidez e sentido de humor face aos fins.

aaah poderá ser também uma homenagem às artistas velhas. Àquelas que apesar da idade física nunca encontraram impedimento para continuar a expressar-se: a Louise Bourgeois de 94 anos, a Kazuo Ohno de 85 ou, ainda, a Anna Halprin de 83.
aaah longa vida aos bailarinos velhos” é o que eu digo, esperando eu também no futuro ser uma velha que dança.

Não, afinal não é uma homenagem às artistas velhas.

aaah também é sobre inícios.

aaah pensa em fins e começos, como cortes na existência de uma pessoa.

aaah usa o recorte e o detalhe para compor divagações entre nascimentos e mortes.

Ana Rita Teodoro

 

Este teatro tem esta newsletter
Fechar Pesquisa