A Minha Cabeça
12 - 17 Março
(exceto segunda)
sábado a quinta 19h30
Classificação Etária:
M/12Encenação Carla Bolito
Texto Venâncio Calisto e Carla Bolito
Elenco Daniel Martinho, Kimberley Ribeiro e Carla Bolito
Cenografia Marcello Urgeghe
Desenho de luz Daniel Worm
Sonoplastia Rui Dâmaso
Figurinos Ricardo Preto
Cabelos Ulisses Olimpo
Fotografias Alípio Padilha
Produção Marta León
Coprodução Teatro do Bairro Alto, Estado Zero – Associação Cultural
Apoio à criação EVC – OPART | Estúdios Victor Córdon
Apoios
O TBA fica junto ao Largo do Rato.
Condições de acesso
- À entrada do espaço, poderá ser medida a temperatura sem registo, enquanto a medida for recomendada pelas autoridades de saúde. O uso de máscara é obrigatório antes, durante e depois da sessão.
- Solicitamos que desinfete as mãos à entrada e adote as medidas de etiqueta respiratória.
- Mantenha uma distância de segurança e evite o aglomerar de pessoas.
- Traga o seu bilhete de casa ou, caso tenha mesmo de comprar o bilhete na nossa bilheteira, escolha o pagamento contactless por cartão de débito ou MBway.
- Nas entradas e saídas, siga as recomendações da equipa do TBA.
- Devido às indicações da Direção-Geral de Saúde, não é possível entrar na sala após o início da sessão ou alterar o seu lugar após indicação do mesmo pela Frente de Sala.
“Passa muito tempo até termos voz, até cuspirmos no dever e na honra e na fidelidade, […] essas cordas tão sujas, tão forçadas.”
Isabela Figueiredo, Caderno de memórias coloniais
Nunca tive coragem de dizer ao meu pai que não queria aquela cabeça e que nem sequer conseguia imaginá-la na minha casa. Nem numa estante ao lado do postal da queda do muro de Berlim, nem fechada num armário, ou guardada numa arca, num canto de um sótão ou de uma cave, como já vi em várias casas de pessoas que têm passados de marfim que não querem ter à vista… como eu. E depois pensava nesse país, onde nasci e do qual quase não tenho memórias mas que esteve sempre presente em todas as conversas do meu pai. Aquela cabeça, tal como as presas esculpidas com as filas de elefantezinhos, todos no corredor da morte para mais tarde recordar: do tempo das fotografias a preto e branco, dos “pretos e dos brancos”, das fotografias só com “brancos” ou por vezes com um único negro (ou dois, se estivessem a carregar qualquer coisa). Aquela cabeça sempre disparou estes pensamentos em mim, e antes de os saber verbalizar já os silenciava, já os ocultava ou disfarçava, acreditando que talvez assim desaparecessem para sempre… da minha cabeça.
Carla Bolito
2 de Março de 2022
Agradecimentos: a Isabela Figueiredo, que gentilmente cedeu um fragmento de um parágrafo do seu livro Caderno de memórias coloniais para que integrasse o texto deste espetáculo; a Ricardo Falcão, pelo aconselhamento de bibliografia antropológica; a Harry G. West pelo seu trabalho, nomeadamente o livro Kupilikula, o poder e o invisível em Mueda, o qual serviu de pesquisa para o desenvolvimento da dramaturgia; a Gabriela Cerqueira; a Irene Freire Nunes; à minha mãe, Maria de Lurdes Craveiro Bolito Domingues e ao meu pai, Constantino Martins Domingues.
Este espetáculo é dedicado ao meu pai.
A Minha Cabeça retrata o espólio colonialista de uma família no pós-25 de Abril no regresso a Portugal. Um dos objetos desse espólio é um busto de marfim – uma presa de elefante esculpida em forma de cabeça. A partir do processo de certificação do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, a que a legislação obriga para a criação do registo das peças de marfim com mais de quarenta anos, estabelece-se uma teia de relações geográficas e familiares. Seguindo o rasto do marfim que providenciou os recursos económicos desta família no regresso a Portugal, confrontam-se narrativas do passado e do presente. Carla Bolito tem um extenso e reconhecido trabalho em teatro e cinema. Fez criações com Rafaela Santos, Cláudio da Silva e Anabela Brígida. Escreveu e encenou Transfer. A peça Transfer foi um dos textos selecionados no Concurso Novas Dramaturgias do IPLB, obtendo assim a sua publicação. Encenou recentemente Exercícios para Joelhos Fortes de Andreas Flourakis. Em 2016 criou a Estado Zero com Tiago Mateus e Marcello Urgeghe.